Todos sabemos e estamos alertas quanto a evolução da pandemia do SarsCov2 e a evolução natural da Covid-19 em todo o mundo e, particularmente, no Brasil. Nas últimas semanas temos observado uma elevação do número de casos particularmente nas populações mais vulneráveis. Mas, todo o cuidado será pouco neste “novo normal” para evitarmos uma piora deste cenário epidemiológico. Mas. O que eu gostaria de falar está ligado a minha participação em dois Congressos Médicos e que foram presenciais após um longo período de eventos remotos e, portanto, sem a convivência necessária a nós seres humanos.
Os eventos presenciais permitem que os participantes possam se aproximar, intercambiar experiências e elaborar projetos conjuntos, permite que os jovens possam assistir e interagir com os “livros vivos”, permite que a atualização possa ser mais detalhada e discutida entre os participantes dentre muitas outras vantagens naturais da modalidade presencial. Estive, após três anos, no Congresso Eurasiático em Istambul (EHOC – Eurasian Hematology Oncology Congress) com cerca de 500 participantes de mais de 30 países principalmente do oriente médio. Excelente momento de integração e de troca de conhecimentos e experiências com uma região do mundo pouco conhecida por nós brasileiros.
Pela primeira vez, pudemos fazer uma sessão conjunta entre a Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular com a Eurasian Hematology Oncology Group em Istambul e que, duas semanas após, foi novamente realizada agora aqui no Brasil, durante nosso Congresso anual, presencial (São Paulo – HEMO2022), que também foi realizado após três anos.
Há muito tempo não víamos tanta gente e uma atmosfera de extrema alegria e congraçamento. Nossas estatísticas deste Congresso foram impressionantes. Fizemos o maior congresso de todos os tempos de nossa especialidade, sendo este Congresso o maior do Hemisfério Sul e o terceiro no mundo ocidental, menor apenas que os Congressos Europeus e Americanos em número de participantes. Apenas como ilustração, tivemos um total de quase 6000 participantes, sendo que, dentre os técnicos participantes, aproximadamente 50% foram médicos e os outros 50% profissionais de saúde que exercem suas atividades em nossa especialidade. Foram cerca de 1700 expositores em 70 estandes. Tivemos mais de 440 palestrantes sendo 82 internacionais de diversas partes do mundo. Tivemos congressistas de todas as regiões do país sendo a maior delegação, como esperado, do sudeste (3531) mas com ótimas delegações e representações do sul (415), nordeste (458), centro-oeste (206) e norte (161) do país.
Entretanto, o mais impressionante e gratificante, foi o número de trabalhos científicos aceitos e apresentados no evento sob a forma de apresentação oral ou através dos posteres. Foram 1183 trabalhos aceitos para apresentação, sendo sete premiados, 85 selecionados para apresentação oral e 745 para posteres.
Estes números também são recordes em nosso congresso e mostram a importância e a pujança de nosso evento. Todos os artigos aceitos foram publicados em um suplemento especial da revista de circulação internacional “Hematology Transfusion and Cell Therapy” (http://www.htct.com.br/pt-vol-44-num-s2-sumario-S2531137922X00060). Todas as nossas sessões estiveram lotadas e, olhem que começavam às 7:30h com o café da manhã com os especialistas e iam até tarde, muitas vezes chegando às 22h em simpósios corporativos.
Outro dado muito significativo foi o número de profissionais que atuaram como suporte às atividades fins e meio do evento. A área de comunicação foi muto importante sendo editada mais um número da revista “ABHH em Revista” com matérias de interesse institucional. Uma tremenda novidade de nosso evento foi a instalação de uma “arena” onde temas de debate em saúde puderam ser discutidos. O interessante é que esta arena podia atender até quatro debates simultaneamente sem que uma atrapalhasse a outra ou mesmo criasse algum problema a dinâmica do Congresso. Foi uma grande ideia e que será aperfeiçoada para o futuro.
Porém, o mais importante, é que pudemos estar juntos, conversando, discutindo temas de interesse e promovendo um enorme congraçamento entre nós especialistas. Foi um momento único. Nunca imaginamos que algo tão natural como estar juntos, fosse tão importante e que, em alguns momentos, pudesse ser até emocionante.
A pandemia fez renascer muitos dos sentimentos que estavam um pouco esquecidos ou adormecidos. Foram momentos mágicos tanto no Brasil como fora dele. Pudemos ver como coisas muito simples como a da convivência após longo período de isolamento e/ou distanciamento social, necessário ao enfrentamento da pandemia, nos fizeram tanta falta. Espero que consigamos continuar mantendo contida esta pandemia, sempre atentos para evitarmos novas ondas que possam nos expor a novos riscos. Mas, as experiências que acabo de descrever mostram como nós seres humanos precisamos uns dos outros. Somos entes sociais e a pandemia nos causou grandes danos físicos e emocionais.
Após longo período convivendo com a dor, o luto, o medo etc. pudemos viver um pouco esta alegria de estarmos juntos dentro de nosso trabalho de médico, pesquisador e professor. Vamos seguir lutando para que assim possa ser no futuro. Foi muito bom!
Carmino Antonio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020. Atual secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo.