Minha vida me presenteou com coisas incomuns. Uma delas foi conhecer de perto a vida de príncipes e princesas, rainhas e reis. Reconheço que parece uma vida encantadora e que muitos adorariam estar nos seus lugares, mas a realidade da realeza não é bem assim.
Estudando um pouco da vida da nossa querida e salvadora imperatriz Leopoldina, posso afirmar que a aparente beleza real, custa muito sofrimento. Não conseguimos nem imaginar a prisão que as cortes exigem e o quanto são chatas e incomodam. Muitas foram capazes de prender os filhos que nascem imperfeitos pelo resto de suas vidas.
E no mundo atual, a mídia faz muito estardalhaço quando descobre um pedacinho podre na vida dessas pessoas, explorando-os como base de tabloides do mais diversos. Algo ridículo das mídias fofoqueiras do mundo em que vivemos.
Imagino um pouquinho do quanto essa menina de 42 anos vem sofrendo há tempos. Falo de Kate Middleton, princesa de Gales.
Ao assistir ao triste vídeo da linda menina Catherine ou Kate, fico imaginando o que ela passou e vem passando. Imagine-se num espaço onde todas as paredes são espelhos para você e janelas para o público, imagine a autoconsciência constante de cada movimento, a falta de privacidade, o abandono da liberdade: é assim a vida de princesa.
A história do sapatinho de cristal da Cinderela é realmente um sonho vendido que não cola em nenhuma verdade.
O apelo moral por trás das palavras de Kate Middleton me deixa mais triste ainda. Coitado do seu marido o príncipe William, do rei Charles, coitada dela, de seu cunhado e cunhada. Todos são coitados e somente devem fazer o que a corte manda. A vida deles é um martírio.
A Princesa de Gales ofereceu e ao mesmo tempo fez apelo por decência pública, mesmo da mais básica.
Sabemos que não há uma boa maneira de dar más notícias, mas algumas maneiras são mais duras do que outras. Algumas pessoas, seja por covardia ou um excesso de bravura, se recusam a noticiar até para si mesmas.
Os deveres são difíceis, e os corredores dos castelos são sombrios e frios, e mesmo que a montagem de fundo da gravação tente colocar um pouco de cor e luz, a declaração feita por Catherine, na última sexta-feira, dia 22 de março, me fez ficar realmente muito triste. Ao vê-la, nem precisei e nem quis ouvi-la. Agora podemos imaginar algo pior.
Imaginei estar vendo uma filha nessa idade compartilhar suas más notícias com milhões de desconhecidos, impiedosos que zombam, que invejam aqueles que nem conhecem pessoalmente, e todos que anseiam ou presumem conhecê-la, de dentro para fora, simplesmente por ter acesso à parte pública da vida dentro de relações parassociais cada vez mais tóxicas.
E como você começa a dar essa notícia sem terminar?
Essa família inglesa tem tantos deveres e tristezas que sempre acompanharam seus entes reais. Fica notável nas revelações da princesa de Gales a verdade no seu rosto e em suas palavras.
Talvez porque foi algo longe da vida real, no sentido de realeza, mais próximo da vida real, no sentido plebeu mesmo. Nenhum título foi usado, ela se referiu ao marido como “William” e falava de sua “jovem família”. Coitado do rei Charles, que também está sendo tratado para câncer.
Todo o teor da declaração da jovem Kate toca qualquer pai, em qualquer lugar. É fácil de se imaginar derrubado pelo mais amargo dos choques. Essa não é uma questão de instinto ou design, não é o ponto.
Kate merece sim, o nosso maior respeito e dignidade. Não mentiu em nada e não se colocou como princesa, se colocou como mulher, mãe, esposa e filha. E provavelmente enfrentou a corte para falar como falou.
Obrigado Catherine, você é agora mais que uma princesa, é um exemplo para o mundo.
Luis Norberto Pascoal é empresário e presidente da Fundação Educar