Pela primeira vez assisti presencialmente ao TEDx Campinas, que carrega uma frase bem significativa: ‘As melhores ideias que merecem ser espalhadas’.
Nesse dia, aprendi muito ouvindo os oradores, lá chamados de speakers. Observei na plateia muita gente sedenta de ‘esperançar’, como bem lembrou Majori Silva, 23 anos, ao subir no palco com seu caderno de anotações trazendo a seguinte frase do patrono da educação brasileira, Paulo Freire: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir!
A jovem Majori representa este esperançar. Nascida na periferia de Campinas, estudante de escola pública, mulher preta, filha de uma faxineira e um aposentado, emocionados ao ver a filha no palco, os projetos de Marjori e sua história de vida dão a certeza de que ela se permite ‘esperançar’ todos os dias.
Na adolescência Majori criou um projeto de contação de histórias e atingiu mais de 7 mil alunos da rede pública de Campinas. Participou da Academia Educar e sentiu a força do seu protagonismo juvenil e de tantos outros jovens que encontrou.
Nesse caminho ficou sabendo da oportunidade de 10 vagas oferecidas para estudantes do Brasil em receber uma mentoria de Havard. Mesmo desencorajada por uma professora que apontou a falta de recursos financeiros e o fato de ela não ter inglês fluente, não desistiu, resistiu e conquistou uma das 10 vagas. “Fiz a mentoria por um ano remotamente e, no final, viajei para os Estados Unidos, onde tive a oportunidade de participar de uma conferência na Universidade de Havard, que durou uma semana”, lembra.
Quando voltou da experiência, Majori viu que poderia seguir além com seu esperançar. Montou a biblioteca comunitária Lugar de Fala para democratizar o acesso à leitura, cultura e informação na Comunidade Chico Amaral.
Quando Marielle Franco foi assassinada, sua sobrinha queria saber por que todo mundo estava falando ‘Marielle presente’. Olhando para o esperançar novamente, Majori criou uma história para explicar para sobrinha quem era a vereadora carioca. Com isso, aos 21 anos, estreou como escritora, com o livro infantil O Jardim de Marielle, pela Editora Mostarda.
Atualmente ela tem 23 anos e se permite esperançar todos os dias. Majori também é autora de textos profundos publicados no portal Hora Campinas e cursa Ciências Sociais na Universidade Federal da Bahia. De novo, os livros têm sido seus companheiros potentes para descobrir e existir no mundo.
Ela carrega uma frase que a ajuda a trilhar seu caminho ‘os incomodados que mudem o mundo’. E, mesmo morando em Salvador, ela trouxe ao TEDx algo muito precioso presente na música É tudo pra Ontem, do Emicida, “Viver é partir, voltar e repartir.”
Não poderia deixar de citar os outros oradores. Suas falas potentes agora seguem comigo e com tantas outras pessoas que lotaram o evento. Tenho certeza de que o evento trouxe muita esperança e ideias que têm ajudado a transformar o mundo.
Obrigada, Rafael Stein, Luciano Machado, Leandra Gonçalves, Felipe Vassão, Zé Neto, Adriana de Morais, a banda Francisco El Hombre, Alessandra Kugnharski, Leo Tomasi e, também, a bela condução da mestre de cerimônia Luana Campos.
Kátia Camargo é jornalista e sempre acha que uma vida é pouco para tantos aprendizados. Está sempre se surpreendendo com a potência que mora no outro. Este texto foi construído ouvindo a música do Emicida, É Tudo para Ontem, citada por Majori. Que a gente esteja sempre disposta a REPARTIR com o outro.