“Durante o último quarto de século, a sociedade tem observado que um número crescente de jovens chega à maturidade com sérios problemas causados por simples fraqueza de caráter: são imaturos e irresponsáveis, abusam do álcool e das drogas, mostram-se indiferentes em matéria religiosa e, mais tarde, instáveis na vida conjugal. Ora, os profissionais que lidam com esses jovens problemáticos detectaram, há já bastante tempo, um traço comum a todos eles: via de regra, não chegaram a desenvolver o adequado respeito pelo seu pai, ou seja, por um motivo ou por outro, o pai não chegou a exercer uma forte liderança moral sobre eles durante os anos de infância e pré-adolescência”
(do Livro “Pais bem-sucedidos”, de James B. Stenson; Ed. Quadrante, 1997)
O livro citado acima foi escrito há quase 25 anos. O cenário trazido, porém, não melhorou desde então. É um fenômeno preocupante a ausência de protagonismo dos pais na formação dos filhos.
As mães, embora sejam as maiores vítimas – juntamente com os próprios filhos, é claro – por vezes, inconscientemente, podem contribuir para essa situação. Com efeito, já nos primeiros dias e meses de vida da criança, não confiam os cuidados ao pai. Pior ainda, pode acontecer de assumirem uma dedicação exclusiva à filha ou ao filho, deixando o pai de lado. Com o passar dos anos, esse se torna quase que um estranho para ambos.
Mas é evidente que essa não é a principal causa dessa lamentável ausência do pai na vida dos filhos.
Um fenômeno que se iniciou com a chamada Revolução Industrial, foi a separação entre o ambiente de trabalho e o lar. Muitos de nós talvez tenhamos a oportunidade de observar o estilo de vida de famílias que viviam no campo ou mesmo dos pequenos comerciantes, cuja loja estava situada na frente da casa. Nessas situações, os filhos cresciam vendo o pai trabalhar. Observavam como ele se relacionava com os demais, como reagia diante das situações difíceis. Enfim, a formação dos valores ocorria de maneira quase que natural e sem esforço. Bastava que se esforçasse para ser um homem honrado no trabalho e nas relações do dia a dia para que isso, por si só, exercesse uma influência significativa na vida dos filhos, que os observavam e com ele conviviam várias horas por dia.
No último século isso modificou radicalmente. Os filhos pouco sabem sobre o trabalho dos pais.
Verdadeiramente desconhecem o que lhes ocupa várias horas por dia. Pior, com muita frequência, sabem que o trabalho é uma atividade que rouba imensas horas do convívio com o pai e que o deixa esgotado e atirado no sofá ao final do dia. E muitas vezes isso acontece também com a mãe. O lar se tornou então um local de descanso ao final de um dia intenso de atividades profissionais.
O convívio entre pais e filhos ficou reduzido a poucas horas por dia ou por semana. Em situações mais difíceis, como acontece com o divórcio, a companhia paterna é desfrutada poucas horas por mês… Com isso, perde-se o protagonismo na transmissão dos valores. Ou, quando menos, não poderá esperar que isso ocorra de maneira espontânea, ou seja, simplesmente observando como o pai age em cada circunstância da sua vida.
Poderíamos pensar que, com a pandemia e o isolamento social, que implicou um aumento considerável no home office, estaria ocorrendo uma inflexão nessa tendência. Será?
Os pais que estão trabalhando em casa estão acessíveis? Os filhos conseguem saber o que fazem por horas e horas diante do computador?
Veem-no se relacionando com outras pessoas nessa situação? Ou simplesmente agora se divide o mesmo teto enquanto cada qual vive o seu mundo próprio diante das telas de um smartphone ou de um computador?
Fábio Henrique Prado de Toledo, casado com a Andréa Toledo é pai de 11 filhos e avô de 2 netas. Moderador em cursos de orientação familiar do Instituto Brasileiro da Família – IBF, especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC, é Juiz de Direito em Campinas. Site: www.familiaeeducação.com.br. E-mail: [email protected]