O Parlamento Europeu condenou nesta quinta-feira (19), veementemente, o recente ataque às instituições democráticas no Brasil. Também repudiou as tentativas do ex-presidente Jair Bolsonaro para “desacreditar o sistema eleitoral” e saudou os esforços com vista a uma investigação rápida e imparcial.
A posição do Parlamento é expressa numa resolução adotada em Estrasburgo, França, com 319 votos a favor, 46 contra e 74 abstenções, depois de a “invasão às instituições democráticas brasileiras”, ocorrida a 8 de janeiro, ter sido debatida no hemiciclo na quarta-feira à noite.
No texto, os eurodeputados começam por expressar “solidariedade com o Presidente democraticamente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, o seu governo e as instituições brasileiras”, e condenam “com a maior veemência os atos criminosos perpetrados pelos apoiantes do ex-presidente Bolsonaro”.
Os eurodeputados dizem a seguir “congratularem-se com os esforços para assegurar uma investigação rápida e imparcial para identificar e processar os envolvidos, os instigadores e as instituições estatais que não atuaram para evitar os ataques”.
O Parlamento destaca “a recente decisão do Supremo Tribunal de aprovar o pedido dos procuradores federais para investigar o ex-Presidente Bolsonaro, pois ele ‘poderia ter contribuído, de forma muito significativa, para a realização de atos criminosos e terroristas'”.
A assembleia “lamenta as tentativas do ex-presidente Bolsonaro e de alguns dos seus apoiadores políticos de desacreditar o sistema eleitoral e as autoridades eleitorais, apesar da falta de provas de fraude eleitoral, e convida-os a aceitarem o resultado democrático das eleições”.
A terminar, a assembleia europeia nota que “os acontecimentos em Brasília, a invasão do Capitólio norte-americano em janeiro de 2021 e a detenção na Alemanha, em dezembro de 2022, de 25 pessoas que procuravam restabelecer o ‘Reich’ alemão estão ligados à ascensão do fascismo transnacional, do racismo e do extremismo”, pelo que salienta a “importância de regular as plataformas de comunicação social para prevenir a desinformação e o discurso do ódio”.
No debate realizado na quarta-feira à noite em Estrasburgo, a maioria dos eurodeputados que intervieram estabeleceu um paralelo entre o sucedido a 8 de janeiro último no Brasil e o ataque em Washington a 6 de janeiro de 2021 por apoiantes do então Presidente norte-americano cessante, Donald Trump, e sublinharam a importância de serem responsabilizados todos os envolvidos nos acontecimentos de Brasília.
Intervindo em nome da Comissão Europeia, a comissária Adina Valean apontou que “a União Europeia tem reiterado a sua confiança na democracia do Brasil e na força das suas instituições”, e afirmou-se convicta de que as mesmas “prevalecerão sobre a violência e o extremismo”.
“O ataque às instituições centrais do Brasil não começou no domingo passado. Lamentavelmente, é o resultado de anos de ataques de polarização política contra o poder judiciário, contra a imprensa livre e contra a sociedade civil, amplificados ainda mais pelas redes sociais, e isto não está de modo algum limitado ao Brasil. Este é um problema para todas as nossas democracias”, alertou.