Os primeiros meses do ano são um bom momento para olharmos para os jovens que estão fora das escolas e do mercado de trabalho. O que vamos plantar para eles a partir de agora? Não podemos esquecer, enquanto sociedade, que esses jovens são nossa responsabilidade e potencial.
Li recentemente um texto muito interessante de Nayara Bazzoli, Gerente do Juventudes Potentes, publicado no jornal Folha de S. Paulo. Ela coleciona milhares de histórias reais sobre os desafios enfrentados por esses jovens, mas vou me ater a alguns aspectos de sua filosofia: cuidar e educar os mais pobres que hoje não estão no radar das empresas.
São jovens que valem ouro, mas sem o devido preparo nunca vão ocupar espaços para se desenvolverem. E a culpa é nossa, de todos nós. A grande maioria das empresas não sabe quem são esses jovens, quais suas inseguranças, dificuldades e anseios. Conhecer suas realidades poderia ajudá-los a se inserir no mundo corporativo.
Segundo o IBGE, em 2022, dos 50 milhões de jovens entre 15 e 29 anos do Brasil, 10,9 milhões nem estudam nem trabalham, ou seja, 1 em cada 5 jovens precisa do nosso olhar mais atento.
A Gerente de Juventudes Potentes destaca em sua coluna que esses jovens têm suas vidas atravessadas por uma série de injustiças estruturais, que os impedem de permanecer na escola, conseguir empregos formais e se desenvolver. Eu concordo com ela, e completo que esses jovens-potência sem apoio viram os nossos “nem, nem, nem”.
Quando falamos de perda de potencial, não é apenas a experiência de vida do indivíduo, mas até mesmo a saúde financeira do país. Segundo estimativa do Juventudes Potentes e da Accenture, de 2020, o engajamento empresarial pode mudar a vida desses jovens e gerar um retorno médio de R$ 2 bilhões para o Produto Interno Bruto (PIB), isso só na capital paulista.
Nayara trouxe dados da pesquisa, “Injustiças estruturais entre jovens na cidade de São Paulo” e por meio dos dados podemos analisar nossa responsabilidade de dar espaço e caminhos. Os 600 jovens mostraram um retrato de suas vidas e obstáculos. Quase a metade já têm filhos, mais de 70% são negros ou pardos, quase um quarto interromperam os estudos.
Para não cairmos em um ciclo de repetição dos mesmos fatores, e mantermos sempre esses jovens fora do mercado de trabalho, é preciso que as empresas revejam suas práticas, visando a manutenção desse jovem nesses espaços, com vontade de crescer e condições de pertencimento amplo. As injustiças estruturais devem ser ultrapassadas, para o bem desses jovens e do país.
Em seu texto, Nayara destaca ainda que os próprios jovens-potência têm clareza do que poderia ajudá-los: formação para o trabalho, políticas públicas de incentivo à inclusão produtiva, mudança de cultura das empresas para que acolham o jovem trabalhador desde o processo seletivo e garantam, posteriormente, condições favoráveis ao seu desenvolvimento, novas dinâmicas de trabalho pensadas em jovens periféricos, entre outras ações que contemplem a diversidade de vivências sociais dessa população que representa o futuro. Aí parece uma boa lista para se iniciar, e já!
Existe um caminho para ser trilhado e os jovens são responsabilidade de toda a sociedade.
Precisamos plantar possibilidades reais para despertar toda a potência desses jovens. Esse deverá ser nosso maior desafio para os próximos 7 anos.
Luis Norberto Pascoal é empresário e presidente da Fundação Educar