Em outubro de 2023 tivemos o maior Congresso de nossa especialidade (Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular) em São Paulo, promovido pela Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) afilhada da Associação Médica Brasileira (AMB). Foi o “Hemo 2023” com mais de 7300 participantes. Um recorde absoluto. Este é o terceiro Congresso em número de participantes, atrás apenas do americano e europeu.
Infelizmente, este ano não pude participar tendo em visto algo maravilhoso que ocorreu em nossa família na Itália que foi o nascimento de minha terceira neta. Mas, neste mesmo mês de outubro participei na Itália do evento “SOHO Italy 2023” e do “EHOC (eurasian onco hematology congress) 2023” em Istambul, Turquia.
Assim, posso dizer que voltamos plenamente a organizar e participar de Congressos após um longo período de eventos remotos ou híbridos devidos a pandemia de Covid-19. Lembrar que o SarsCov2 (o novo coronavírus) continua rondando nossa vida e muitos casos ainda são diagnosticados e exigem sempre cuidados.
Foi a ciência que primeiro me atraiu para os Congressos, mas foi a minha comunidade científica e meus colegas que me fizeram voltar e participar sempre. Ano após ano, as salas de sessão passaram lentamente de cheias de desconhecidos a muitos dos meus amigos.
Há mais sorrisos, cumprimentos e acenos quando caminhamos pelo centro de convenções. Muitos mais abraços e conversas de corredor. Mais reuniões na dentro da própria reunião, dando caras aos nomes, conquistando conhecidos e futuros colaboradores.
Uma rede diversificada de pessoas com diferentes conjuntos de habilidades e perspectivas fazem muito mais por nós do que qualquer outro fator, e “enviar mensagem para um amigo” tornou-se uma ferramenta importante para usar em momentos de necessidade profissional (e também pessoal).
As Sessões Plenárias e de Pôsteres são lugares favoritos para encontrar jovens cientistas e profissionais promissores (que garantirão o futuro de nossa especialidade), conexão com orientadores e mentores e de apoio aos jovens pesquisadores.
Por mais entusiasmado que esteja com as novas tecnologias e fármacos que nos permitem obter mais dados clínicos, terapêuticos e biológicos para diagnósticos clínicos e tratamento, utilizar a tecnologia para aproveitar ao máximo os dados que já temos é uma vantagem para a otimização de recursos.
Por mais que precisemos nos ater a categorias para organizar a reunião, há tanta sobreposição de mecanismos, metodologias, doenças e resultados em hematologia que estaremos sempre surpresos com o quanto podemos aprender nos lugares mais inesperados. Importante é mesmo olhar além do seu nicho. Cuidar dos outros significa cuidar uns dos outros também.
Vamos aprender e praticar a melhor forma de apoiar uns aos outros em nosso programa de equidade, diversidade e essencialidade. Projetos, estudos, protocolos irão e virão, mas as pessoas permanecerão. Nos Congressos encontramos nosso público, expandimos nossa sua rede de colaboração e amizade e saímos de nossa zona de conforto.
Apenas como exemplo, neste nosso evento distribuímos 1500 exemplares de um livro “20 anos da Associação ítalo brasileiro de hematologia – AIBE” que conta um pouco da extensa e vitoriosa cooperação entre o Brasil e Itália na hematologia, particularmente na Onco-Hematologia. Neste livro os jovens poderão entender como se pode construir uma rede de colaboração estável, produtiva e de grande afeto e amizade.
Os vários eventos científicos foram as bases para construirmos esta cooperação com a Itália como com vários outros países. Os encontros da AIBE são anuais, alternado o Brasil e a Itália. Quanto fizemos e ainda temos a fazer. Este breve relato visa trazer ao conhecimento de todos que voltamos a nos encontramos e estabelecermos relações profissionais e humanas em nossos Eventos e Congressos. Vamos torcer para que assim continue em 2024 e adiante.
São nesses encontros que criamos oportunidades, projetos, onde os jovens conhecem os “livros vivos”, onde as discussões e ideias florescem, enfim, onde podemos avançar na obtenção do conhecimento e oferecer à nossa sociedade sempre o melhor para sua saúde e bem-estar.
Como dito curiosamente e assertivamente por nossa colega Juliana Perez Boreto em um editorial para a ASH News Daily (Jornal diário da Associação Americana de Hematologia), nesses encontros da Hematologia é “onde a ciência encontra a sanguinidade” fazendo alusão a nossa especialidade que cuida do sangue (Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular).
Continuemos com esta “sanguinidade” em favor da sociedade. Gostei muito desta comparação pois afinal, sangue é vida, força e vitalidade.
Carmino Antônio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994), da cidade de Campinas entre 2013 e 2020 e Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022. Diretor Científico da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular. Atual presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan.