O mundo está investindo cada vez mais no surgimento de uma verdadeira inteligência artificial. Com isso em mente, devemos imaginar que as “dramáticas perturbações econômicas e políticas que a inteligência artificial pode causar” não terão retorno. A principal preocupação ainda é como essa revolução vai influenciar as empresas, os países e as pessoas.
Não há dúvida: a revolução tecnológica ganhou velocidade com a inteligência artificial. Mas, como toda revolução, sabemos como começa e não temos ideia de como termina. Na literatura especializada, há gosto para tudo, desde os que veem nas inteligências artificiais uma irremediável catástrofe para a humanidade até os que a enxergam como um fantástico salto de desenvolvimento. Provavelmente, a realidade final não será nenhuma das duas, mas, sim, um ajuste mais rápido nas empresas e em seus mecanismos de gestão.
No momento, o que mais atemoriza no potencial dessas inteligências artificiais é a sua capacidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender ideias complexas e aprender com o seu próprio uso.
Porém, quando se busca entender os seus impactos no mundo do trabalho, o cenário se mostra incerto e confuso. Os empregos destruídos são visíveis enquanto os que vão ser criados, invisíveis. Não sabemos sequer os nomes das profissões que vêm pela frente. Enquanto temos certeza de que o mundo irá buscar muito mais aqueles que se formarem em sistemas complexos, tendo em vista que a máquina será cada vez mais capaz de realizar as tarefas mais simples ainda delegadas às pessoas.
Outro temor generalizado refere-se à capacidade de a inteligência artificial realizar atividades criativas até então consideradas exclusivas dos seres humanos, como escrever uma poesia ou uma carta de amor ou compor uma música bonita.
Será que vamos ter a concorrência das máquinas no processo de criar, inventar e sentir? Creio que não, inclusive pensando em um exemplo prático.
Recentemente, o jornal O Estado de SP fez um teste pedindo para que o Chat GPT, inteligência artificial que tem sido muito debatida por produzir textos de maneira bastante variada e até aparentemente ‘criativa’, escrevesse diferentes textos sobre um mesmo tema como se fosse Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e Rubem Fonseca.
Os textos criados pela inteligência artificial em nada se parecem com a essência da escrita de nenhum dos autores. Ao menos o estilo de grandes autores continua inimitável, e neles o que difere uma inteligência que não depende apenas de artifícios.
Acredito que a evolução será maior na logística e na avaliação de dados ou exames sistêmicos ou na medicina. De resto, será uma evolução que exigirá mais competência das áreas ligadas aos processos digitais.
Os impactos no mercado de trabalho são complexos e difíceis de serem antecipados com precisão. Vários estudos analisam o grau de risco de sobrevivência das atividades humanas em face das tecnologias, mas isso depende de muitos fatores como, por exemplo, a velocidade e a extensão da automação, o custo e a tributação do trabalho, a existência de mecanismos de reeducação continuada e vários outros.
Em vista de tanta disparidade de resultados e previsões, será melhor esperar a chegada dos impactos. As tecnologias já estão mudando o modo de trabalhar de várias profissões. Precisamos tomar providências urgentes para melhorar a capacidade das pessoas se repaginarem para se ajustar às mudanças galopantes. Afinal, o mercado de trabalho já foi globalizado. As pessoas trabalham de qualquer lugar para qualquer outro lugar, em todos os horários e sem sair de onde estão. Essa mudança já ocorreu, mas ainda não está bem resolvida.
Luis Norberto Pascoal é empresário, empreendedor e incentivador de projetos ligados à educação e à sustentabilidade. A Fundação Educar Dpaschoal é um dos pilares de seu trabalho voltado ao desenvolvimento humano e social.