Recentemente conheci um projeto muito inspirador que ocorre no Hospital Sobrapar Crânio e Face, A Escola no Hospital. Seu objetivo é melhorar o desempenho escolar de crianças e jovens com deformidades de crânio e face atendidos na instituição. Um trabalho extremamente necessário, pois há pacientes que passam por diversos tratamentos e cirurgias no decorrer da vida, que exige um tempo de recuperação e afastamento do dia a dia escolar e da convivência social.
Muitos pacientes chegam ao Hospital Sobrapar ainda bebês e passam em média 20 anos em tratamento. “O hospital cuida do paciente como um todo, não só da face. As faltas escolares que ocorrem em razão do tratamento podem gerar dificuldades na aprendizagem e na compreensão do conteúdo, defasagem escolar e perda de vínculo com os amigos e professores. Isso torna ainda mais difícil o processo de aprendizagem. A Escola no Hospital visa minimizar todos esses impactos”, conta a psicopedagoga e coordenadora do projeto, Raquel Urvaneja.
O projeto inclui diversos tipos de jogos de estratégia que estimulam o pensamento, quebra-cabeças, incentivo à escrita e leitura, atividades escolares que envolvam a criatividade, o pensamento lógico-matemático, leitura e interpretação de texto.
São incentivados também a atenção e o foco, favorecendo a aquisição de estruturas cognitivas necessárias aos alunos. Isso ocorre no atendimento dentro do hospital e em casa, quando necessário.
A psicopedagoga destaca ainda que o projeto tem sido importante para as famílias, pois elas se sentem acolhidas e percebem a diferença na vida acadêmica dos filhos.
“O trabalho em conjunto é outro pilar fundamental, pois as famílias passam a entender e valorizar a importância da escola na vida dos filhos”, ressalta.
Colhendo bons frutos
Yasmin de Siqueira Rocha, 14 anos, é estudante do 9º ano do ensino fundamental e mora em Campinas. Desde o começo de 2023, a adolescente participa do projeto A Escola no Hospital, realizado pelo Sobrapar, e já colheu os primeiros resultados positivos, com elogios dos professores pela evolução.
“Esse apoio complementar tem ajudado muito. Percebemos melhoras principalmente em matemática e português, matérias que ela tinha dificuldade. Yasmin progrediu também na elaboração da redação. Ficamos felizes ao ver que ela tem percebido o quanto é capaz de ir além do que imaginava na escola”, conta o pai, Sidnei Pigozzi da Rocha.
Yasmin nasceu com fissura lábio palatina e está entre os 120 pacientes acompanhados anualmente pelo projeto A Escola no Hospital.
Apoiada pela Fundação Prada de Assistência Social, a iniciativa consiste em montar, após uma avaliação psicopedagógica com testes padronizados, um plano de intervenção individual, a partir das necessidades, dificuldades e anseios de cada paciente entre 6 e 18 anos de idade.
Kátia Camargo gosta de falar que é uma jornalista de pequenos reparos e lembrou de um texto de Rubem Alves e que cabe muito bem no projeto A Escola no Hospital que ensina que todos podem ser incentivados a voar:
“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado”