Jéssica Neves de Sousa, 16 anos, e Narcizo José da Silva Júnior, 14, são dois jovens amigos que, todas as quartas-feiras, se encontram, no período da manhã, com outros jovens na antiga Estação Guanabara, que hoje se transformou no Centro Cultural Unicamp, CIS Guanabara.
O espaço reúne semanalmente cerca de 40 jovens, vindos de diferentes escolas municipais e estaduais, de vários bairros de Campinas, para participar da Academia Educar, um projeto da Fundação Educar, pertencente à Cia DPaschoal e que há 33 anos atua com o protagonismo juvenil, com a característica marcante de ser ‘de jovem para jovem’.
Aliás, o termo protagonismo juvenil nasceu do olhar do pedagogo Antônio Carlos Gomes da Costa (1949–2011), que sempre acreditou na afirmação de que o jovem nunca é um problema e sim a solução. Ele falava que o protagonismo juvenil deveria oferecer a criação de espaços e condições capazes de possibilitar ao jovem se envolver em atividades direcionadas à solução de problemas reais, atuando como fonte de iniciativa, liberdade e compromisso.
“O fundamental é acreditar sempre no potencial criador e na força transformadora dos jovens”, dizia o pedagogo.
Narcizo, que a princípio chegou na Academia Educar para acompanhar a irmã Giovanna, entendeu rapidamente a força das palavras do pedagogo Antônio Carlos Gomes da Costa (mesmo que ele não conheça ainda o seu legado), tanto que já entrou para o grêmio de sua escola. “A Academia Educar me fez enxergar não só as minhas necessidades, mas as dos outros. Vejo que o grêmio estudantil tem a força de construir junto com outras pessoas as soluções para os desafios da escola”, conta.
A irmã Giovanna completa que desde que começou a frequentar a Academia também começou a se sentir protagonista. “Muda muito nosso olhar de mundo e, no lugar de reclamar, passamos a ver que somos parte da mudança que queremos ver”, diz.
Mas o que será que faz com que esses jovens acreditem em seus potenciais?
Na Academia Educar, os jovens passam a se enxergar como agentes transformadores da mudança. “Nas oficinas, exercitam o autoconhecimento e desenvolvem habilidades socioemocionais por meio de projetos e desafios, facilitados por jovens que já passaram pelo projeto no ano anterior — os monitores juvenis. E um desses desafios é o Oásis Educar, um movimento voluntário que busca integrar os estudantes, a escola e a comunidade para a construção, de forma cooperativa, de um sonho comum de uma escola da cidade.
No Oásis, os jovens fazem um mergulho em várias etapas antes do processo final, como reconhecer as belezas da escola, conhecer os talentos com os quais podem cooperar, descobrir o sonho da escola, buscar os recursos necessários e, por fim, colocar a mão na massa para transformar o espaço em um oásis.
“Esse é o dia em que todos se unem para concretizar o sonho da escola”, conta a coordenadora de projetos Cristiane Stefanelli, que trabalha com protagonismo juvenil na Academia Educar e também já foi aluna do projeto.
O despertar de um ofício
Em 2022, a turma presencial da Academia Educar (pois na pandemia nasceu também a Academia Educar on-line, que trabalha com jovens de todo Brasil) está tendo a oportunidade de aprender um ofício. No período da tarde, quem não está em aula é convidado a participar da jornada audiovisual facilitada pelo educador Deovek, seguindo também a metodologia da Academia.
“Eles estão conhecendo todo o processo de construção e produção audiovisual, que vai gerar um curta e se somar a outros já existentes. que habitam, desde 2009, o canal do YouTube da Fundação Educar”. Para conferir outros trabalhos e curtas, basta acessar https://www.youtube.com/fundacaoeducar. Em breve, os curtas deste ciclo estarão disponíveis para serem apreciados.
“Neste ano, o tema escolhido foi a saúde mental. E, para que eles pudessem aprofundar o assunto, os alunos contaram também com uma conversa inspiradora com o psicanalista da Unicamp, Ivan Capelatto”, conta Cristiane.
Na manhã inspiradora que passei ao lado desses jovens tive a oportunidade de conversar com Michelle, Wallace, Beatriz, Matheus, Igor, Maria Eduarda, Ruth e tantos outros jovens. Eles nem imaginam, mas deixaram em mim uma esperança de que o mundo pode ser melhor com eles.
Percebi que cada um já carrega o lema da Fundação Educar: ‘os incomodados que mudem o mundo’, na mente, no coração e na ação.
Kátia Camargo é jornalista, sempre estudou, tem filho na escola pública e acredita muito na educação. Ao passar uma manhã com os jovens da Academia Educar, lembrou do trecho da música Sujeito de Sorte, do Belchior: “Ano passado eu morri, mas este ano eu não morro”.
Muitos jovens protagonistas sonham em construir um mundo melhor para todos. Mesmo sabendo de todos os desafios, todas as perdas e dores dos últimos anos, eles seguem em frente inspirando e fazendo acontecer.