Subiu o cheirinho de café e dava para escutar o pão com manteiga fritando na chapa. Confesso que tenho um carinho especial por tomar um cafezinho, principalmente nos dias da semana quando reservo um tempo, no meio da famosa correria do dia a dia, e me permito fazer uma pausa.
Esse dia, em especial, tinha acabado de iniciar as férias do trabalho e fui até uma padaria para me dar de presente um café num lugar diferente e, assim, sentir que estava curtindo esse período de descanso e fazendo coisas diferentes.
Quase que junto com essa combinação clássica brasileira, recebi também um e-mail com o título: “Feedback”. Tratava-se da percepção do time de Engenharia & Expansão de uma empresa onde havia feito uma palestra sobre Autoconhecimento e Autodesenvolvimento no início de dezembro. Confesso que, imediatamente a minha mão começou a suar e não tinha nada a ver com o cafezinho quente. É algo que normalmente acontece quando fico um pouco ansioso pelo que está por vir.
Pois bem, qual não foi a minha feliz surpresa quando o resultado era uma bela nota 10! Todos os participantes avaliaram e alguns ainda fizeram comentários positivos, com menções do impacto positivo daquele momento durante sua semana. Sorri, dei um belo gole no café, compartilhei com a minha noiva via mensagem, fechei o arquivo e logo entrei numa rede social e comecei a me entreter por ali, com os muitos memes que iam surgindo. Enquanto eu rolava a tela, ia me distanciando daquela sensação.
Em poucos minutos, me deu um estalo mental e pensei: “Ei, ei, pera aí! Se tivesse sido uma crítica, como você estaria agora? Também estaria aí, como se nada tivesse acontecido, divagando pelas redes sociais?”. E foi aí que percebi que absorvo completamente diferente os elogios e as críticas que recebo.
Pedi outro cafezinho e resolvi olhar para isso e examinar um pouco dos meus pensamentos e comportamentos. Mergulhei neste Jonas que estava se manifestando ali e me perguntei: onde foram parar os últimos elogios que recebi? Quando tempo eu costumo curtir esses elogios? Naquele instante vi que aquele era um excelente momento para praticar, mais uma vez, o tema da palestra e me conhecer um pouco mais.
Os primeiros pensamentos me convidaram a voltar um pouquinho no tempo. Assim como a maioria da população, cresci com as condições estruturais básicas de uma família pobre da periferia, que conviveu com pouca grana e precisando administrar esse pouco que tinha. Me lembro que, desde bem pequeno, sempre pensei “que eu não podia dar errado na vida”, “que precisava ser alguém quando crescesse” e “que eu não podia ficar dando – muito – trabalho para os meus pais”, afinal, eles já tinham que dar conta da nossa família e dessa condição.
Com isso, especialmente desde os 12 anos, comecei a me envolver em tudo que me parecia uma porta de oportunidade. Essa escolha, somada com os pensamentos de independência, fizeram com que eu me tornasse bastante exigente comigo mesmo e que me fez passar muito mais tempo tentando melhorar, ansioso por não dar errado, do que atento as coisas que já vinham acontecendo.
Ao longo desta trajetória, vários elogios e reconhecimentos surgiram, mas hoje percebo que uma parte de mim sempre olhou aquilo com desconfiança. Às vezes, achava que era só por educação. Às vezes achava que era porque as pessoas, convivendo com um cara que tinha um bom humor, falavam aquilo porque, como diziam, me consideravam um cara legal. Eu sempre costumei sorrir, agradecer, mas, curtia muito pouco o sentimento de verdade.
O contrário acontecia com as críticas. Essas sempre me atravessavam como flechas e me impulsionavam a dedicar um tempão ali em reflexões vazias ou autojulgamentos, hora ou outra, duvidando até da minha capacidade. Isso já aconteceu contigo? De ficar um tempo no looping do medo de não dar certo? Ao perceber tudo isso, não teve jeito: sorri carinhosamente como se fosse um abraço em mim mesmo e percebendo que um mundo se abria.
Ampliando o olhar, comecei a pensar nos adultos e outros jovens que converso e não pude deixar de notar que isso também era constante em suas falas, mesmo vivenciando contextos diferentes no que diz respeito a classes sociais, cores das peles, orientações afetivo-sexuais e espiritualidades.
Que muitos de nós, rapidamente damos espaços nas nossas cabecinhas para as críticas, as guardamos e cultivamos, hora como estímulos e com a sensação de vingança, hora como chateações que nos deixam pra baixo. Já quando recebemos um elogio, nem sempre paramos para olhar o que em nós nos permitiu chegar até aquele resultado e, a partir disso, celebrar, maximizar essa sensação de bem-estar e conscientemente transformá-la em apropriação de força.
Inclusive, a forma como utilizamos as redes sociais, também nos tira um pouco desta atenção do agora e potencializa esse olhar para as muitas “gramas dos vizinhos”. Enquanto navegamos, encontramos toda uma estruturação social de perfeições e de mundos ideais que, se não olhamos com consciência, nos convidam a um universo de inferiorização individual e amplificam a nossa desatenção para quem somos e o que já conquistamos.
Nos distanciamos de nós, vivendo com nossas cabeças nesta primeira versão de metaverso e desconectados do que está acontecendo dentro da gente e nas evidências positivas que já temos a nosso respeito, seja pela autopercepção ou por estímulos das pessoas que nos cercam.
Cultivar este distanciamento tem nos levado, dentre outras coisas, para problemas de saúde mental, tema cada dia mais em pauta e melhor divulgado neste mês, pelas campanhas de janeiro branco.
Sim, quando olho agora, percebo que meu café virou quase um “Café Filosófico” (risos). Mas é porque, realmente, quis ir mergulhando em mim e contrastando nos efeitos disso nos meus comportamentos e em parte da população em geral. E isso, me ajudou a perceber que, ao ter a minha atenção direcionada e refletir sobre os elogios e reconhecimentos da minha vida, é um dos caminhos para aumentar o meu amor-próprio. Que isso me permite também me elogiar, me reconhecer e me dar conta do que vou me tornando, dia após dia.
“Ah, mas Jonas, tem muita gente que faz isso e é bem arrogante”, é o que você pode pensar ao longo dessa leitura. Sim! E, daí, mais uma vez a importância do autoconhecimento e do autodesenvolvimento. De parar para pensar nos nossos pensamentos e em quem eu quero ser. Isso vai nos ajudando a filtrar os extremos e cultivar somente o que admiramos.
O meu convite é para que, assim como fiz no meu cafezinho (e, confesso que ainda venho fazendo), você se permita resgatar as últimas coisas que fez e que se orgulha. Que relembre as últimas palavras positivas que escutou sobre seus comportamentos, habilidades, atitudes, esforços e resultados.
Que se conecte com tudo isso para criar mais condições para um 2022 a cada dia melhor. Que possa reservar tempo na sua agenda e mente para encontrar um lugarzinho especial para tudo o que você já é e que estava passando desapercebido da pessoa mais importante: você!
Assim como cafezinho, você vai perceber o quanto isso aquece o coração e dá uma energizada para seguir os dias com mais sorriso no rosto e leveza.
Jonas Santos, de 28 anos, mora em Campinas desde os 7 anos e acredita que por meio da educação pode melhorar o mundo dele e dos outros