Uma vez, um gerente de um banco quis reduzir as filas mensais de espera para os aposentados receberem seus benefícios. E depois de muito esforço conseguiu. Feliz da vida, ele quis saber a opinião dos velhos. Qual foi a surpresa? Estavam tristes. E pediram de volta uma fila de pelo menos 30 minutos. Disseram que esperavam o dia do pagamento com a maior alegria pelo papo que batiam enquanto esperavam. Era o melhor momento do mês e não só pelo dinheiro, mas porque as pessoas estavam disponíveis para os diálogos e as trocas de problemas e de ideias.
A conversa, em sua forma ideal, não envolve público, apenas parceiros; nenhuma agenda fixa, apenas processo informal. E nelas, sejam longas ou curtas, o que aprendemos de mais bonito é ser humanos.
Abrir espaço para conversar com estranhos, às vezes ansiosamente, é vital para todos nós. São momentos de imprevisibilidade e serendipidade (obras do acaso), confrontamos a diferença ou aprendemos a respeitar o olhar de mundo do outro.
As missas ou cultos dominicais foram fundamentais para essa conexão social e troca de ideias. No princípio, não havia smartphones ou facções on-line. E a cada interação não fomos carregados de significado político, mas delas surgiam até casamentos. Você conhece alguma história de alguém que já encontrou o amor nestes locais? Eu conheço vários exemplos. Dá para reunir as mais diferentes e divertidas histórias.
A oportunidade de reconhecer nossa humanidade nessas interações sempre foi deliciosa. Hoje em dia, pouco cumprimentamos nossos vizinhos, quem dirá um desconhecido na rua. Convido você a fazer essa experiência nos próximos dias, cumprimentar a todos que encontrar. É bem divertida e pode te surpreender positivamente.
Quando saio andando com os cachorros das minhas filhas, que me ‘alugam’ para esse fim, tenho a mania de cumprimentar todos que cruzam meu caminho. E vejo que isso faz um bem reciprocamente! Sinto que precisamos voltar ao básico: revisitar a arte das conversas despretensiosas.
Conversar com o outro já é bom. Se pudermos compartilhar nossas histórias, melhor ainda. E saber escutar é a maneira mais bonita de aprendermos e aguçamos nossos sistemas de crenças, como juntamos o que significa ser engraçado ou empático.
Esses papos podem mudar nossas mentes enquanto sustentam nossas almas. Conheci um estudo que mostrou que participantes que tiveram conversas mais substanciais têm alto grau de satisfação com a vida.
Sou um escritor e autoproclamado tagarela. Converso onde estiver, e agradeço todo tipo de pessoa que se mostra simpática e cruza o meu caminho. Sou ainda um refém de papos espirituosos, bem como devaneios sobre qualquer assunto.
Sou apaixonado por muitas pessoas e por suas vivências, com elas, me envolvo em um nível autêntico.
Sinto que minha vida fica mais leve e solta quando converso com amigos ou pessoas desconhecidas na rua ou mesmo com os jovens da Academia Educar. Com todos aprendo alguma coisa nova.
Na próxima vez que estiver numa fila ou caminhando pela rua, esqueça o celular e olhe ao redor buscando ter boas conversas.
Luis Norberto Pascoal é empresário, empreendedor e incentivador de projetos ligados à educação e à sustentabilidade. A Fundação Educar Dpaschoal é um dos pilares de seu trabalho voltado ao desenvolvimento humano e social.