Tempos difíceis tempos delicados que envolvem economia e vidas. Minha querida leitora, meu querido leitor, bem sabemos sobre a realidade que enfrentamos e que tem como vilão a tal Covid-19. Não quero aqui adentrar no aspecto político, pois não tenho conhecimento para isso, portanto prefiro analisar cautelosamente os fatos antes de emitir opiniões sem fundamento. Era assim que os gregos a.C dividiam a sociedade, também chamada Polis: os que emitiam opiniões sem empirismo, sem pesquisa, sem fundamento e espalhavam Fake News emitiam a chamada Doxa, do outro lado, em menor número estavam os amantes da sabedoria, filósofos, estes, mais cautelosos emitiam esporadicamente a chamada Episteme, uma forma de conhecimento ou até mesmo de provocação para com os “donos da verdade”.
Pois bem, hoje iremos tratar de duas irmãs polares, porém complementares. Em tempos de pandemia, salvo engano estamos completando um ano desde que o primeiro caso de Covid-19 foi detectado aqui no Brasil. De lá pra cá ocorreram grandes alterações, vários autos e baixos, porém especialistas afirmam que este mês estamos no pior período dessa quarentena. Há argumentações válidas de vários lados. Se pegarmos argumentos do filósofo Maquiavel podemos dizer que “os fins justificam os meios”, contextualizando nos dias de hoje seria algo como: “- Quero meu salário, minha renda (fins/ final), nem que para isso vidas sejam sacrificadas (meios)”. Do outro lado podemos trazer Kant, filósofo de enorme importância no campo da Ética, segundo ele é justamente o inverso: “os meios justificam o fim”, poderíamos dar como exemplo o que se segue: “- Me importo com vidas (meios), nem que para isso alguns saiam prejudicados economicamente (fins)”.
No campo da Ética adentramos nos valores, ou seja, princípios que regem nossas vidas: família, status, saúde, seguidores, viagens, lucros, vidas… Cada um tem o seu, e isso é que deixa as relações complicadas. Sobre tal tema há um filósofo chamado Edgar Morin que expõe sua teoria: a Teoria dos Valores Complexos, onde um se depara de frente com outro, até mesmo com seu oposto. “- Professor, mas o que tudo isso tem a ver com Graça e Desgraça?”, você poderia me perguntar, e eu lhe respondo dizendo que a partir de tudo que lhe expus até agora iremos juntos navegar por águas mais profundas.
Existem coisas que nos vem de graça, mas estas não nos interessam aqui; existem as desgraças e as graças. As desgraças são fatos que não gostaríamos que ocorressem; que não temos controle, que nos machucam física e emocionalmente inclusive tirando nossas próprias vidas. Quer um exemplo? Não precisamos ir tão longe assim, a pandemia é um deles, ela é uma desgraça mundial. Por sua vez a graça advém da esfera metafísica (termo filosófico), como a esfera religiosa, fruto da fé. Dizem que até ateus se convertem ou pelo menos clamam a Deus nos seus últimos segundos de vida, enfim…
Ética, valores, desgraça e graça, pontos que andam de mãos dadas, ou atualmente, andam com um metro de distância usando máscaras. Brincadeiras a parte são termos que se relacionam: um cidadão ético é aquele que se coloca no lugar do seu próximo (a autoajuda chama isso de empatia), ética é saber que você convive em sociedade e seus atos impactam diretamente os demais. Quando você pensa em agir e faz o que pensou, você é norteado por seus valores. Aqui usando como pano de fundo a pandemia, você age pensando extremamente a partir de Valores como: “- Minha vida minhas regras… Preciso pagar minhas contas” ou “- Pessoas estão morrendo por falta de ar, equipes da área médica estão esgotadas de tanto trabalhar sem folga”.
O fato é: estamos em uma fase emergencial, fase de completa desgraça que envolve vidas, a graça pode sim vir dos céus, desde que façamos a nossa parte enquanto cidadãos, é como um milagre, uma graça sendo concedida à quatro mãos: duas suas e duas Dele! Se chegamos a esse ponto de fechar praticamente tudo (repito: tirando a política de lado) é porque não cumprimos com nossa responsabilidade enquanto cidadãos. Tema indigesto eu sei, mas reflita sobre, reveja seus valores, pensamentos e ações e conclua o que julgar mais coerente nesse momento.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL)