Caro leitor, querida leitora, caso não tenha a mentalidade aberta para primeiro refletir e só depois julgar, aconselho a virar a página e ler qualquer outro conteúdo deste portal. Hoje preciso que raciocinemos juntos. Pois bem, estamos há pouco mais de um ano lutando contra esta inimiga invisível chamada Covid-19, que vem deixando suas marcas, fazendo estrago em famílias e deixando nelas grandes cicatrizes de dor e tristeza; e isso é fato! Eu mesmo já perdi grandes pessoas por conta deste vírus. A partir desta introdução, convido você a rebobinar a fita, como fazíamos na época de fita cassetes antes de devolvermos às vídeo locadoras. Para tal utilizarei de provocações, o maior instrumento da Filosofia, área na qual sou formado.
Que tal usarmos da memória para lembrarmos-nos de uma célebre frase, de um grande filósofo brasileiro, que deveria ser colada ou pintada em pára-choques de caminhão: “Não se faz Copa do Mundo com hospitais!”, lembrou? Belíssima frase não é mesmo, bilhões de dinheiro gastos com Copa, Olimpíada enquanto a saúde sempre esteve precária.
Problemas na área da saúde sempre existiram, saúde no Brasil nunca foi prioridade, sempre tivemos profissionais se desdobrando para atender a grande fila de pacientes da melhor maneira possível, mas era previsível que uma hora a bomba iria estourar… E estourou! Agora, como diria minha vó, ‘não adianta chorar pelo leite derramado!’.
De um lado nos chegam diariamente dados atuais sobre os números de suspeitos, em fila de espera, internados e mortos, há sim uma enorme campanha moral para que todos se conscientizem e fiquem em suas casas, com o objetivo de salvar vidas, evitando aglomerações e a proliferação do vírus uma vez que não há mais leitos disponíveis nem aqui nem em lugar nenhum. Argumento este pró-vida, do outro lado temos um caminhão de argumentos e protestos que também dão enfoque na vida, porém com uma reivindicação contrária a do #FicaEmCasa.
Esse segundo grupo argumenta que precisa trabalhar, expõe que comércios estão falindo, empresas tendo que demitir funcionários, que as contas não param de chegar e isso trará conseqüências na vida de inúmeras famílias, podendo despertar doenças psicossomáticas e ainda há quem diga que a precária situação econômica possa estimular um pai de família a furtar para dar de comer aos seus filhos.
Argumentos, a meu ver, extremamente plausíveis de ambos os lados para quem sabe reconhecer e dialogar, pena que infelizmente não é a maioria… Ah, percebi o seguinte essa semana em casa, que a maior emissora de TV nacional que temos usa a #FicaEmCasa, mas obriga seus artistas a irem gravar o final da novela das 7, das 8, das 9, das 13… O argumento é que seguem os benditos protocolos de segurança: máscaras, álcool em gel, distanciamento e tudo mais… Hipocrisia? Você decide! Estamos sob o decreto da redução do horário de funcionamento de supermercados, não sei se por minha baixa escolaridade, mas confesso que não entendi: que equação é essa onde se reduzem horários e com isso diminuem-se a aglomeração? Preciso da ajuda de alguma professora de matemática… Precisamos agradecer e reconhecer os heróis que estão expostos na linha de frente: como todos os que compõem a área da saúde, já vacinados, e os que trabalham em supermercados, postos de gasolinas que ganham pouco e nem vacinados foram… Esses últimos certamente são imunes…
O mais triste da reflexão é que infelizmente estamos sempre em polos: ou X ou Y; caso você apoie a campanha #FicaEmCasa você é contra a economia e seus impactos no lar de cada família brasileira, caso você seja a favor de voltar as atividades profissionais seguindo protocolos de segurança com porcentagem mínima de pessoas no ambiente, você será taxado como alguém egoísta, que não liga nem para vidas nem para o sofrimento dos familiares de quem está nas UTIs ou já faleceram.
Como dialogar assim? Como chegar num acordo? Como ter empatia entre ambos os lados? Pois bem, a exposição de fatos não é para a crucificação de ninguém, mas para lhe fazer refletir, aliás, é essa a função da Filosofia, já dizia Epicuro: “Se ela não for útil para tal finalidade não tem razão alguma de existir!” Não compete a eu dizer se há certos ou errados, compete-nos a usar de nossa capacidade intelectiva e apurar os dois lados da moeda, equilibrando razão e emoção.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguísta (PNL)