Minha querida leitora, meu caro leitor, cá estamos nós em mais uma reflexão e hoje escolhi este tema após ver algumas pessoas dando entrevista na TV, entrevistas contando sua realidade… Pois bem, o tema de nossa reflexão diz respeito ao ato de acordar. Shakespeare grande dramaturgo inglês ficou famoso pela frase: “- Ser ou não ser, eis a questão?!” descrita da peça ‘A Tragédia’ de Hamlet. Eu poderia parafraseá-lo dizendo: “- Acordar ou não acordar, eis a questão?!”. Você deve estar perdida (o) sem entender bulhufas do que estou querendo dizer, mas não se preocupe, tudo terminará bem! Acompanhe-me, por favor.
Acordar é um verbo, mais do que isso, é um ato, ou poderíamos dizer: uma escolha, ou pra melhorar ainda e se enquadrar perfeitamente nesse texto de hoje; acordar é sinônimo de desejo. Isso mesmo; desejo.
Há dois tipos de desejo que estão imbricados ao ato de acordar: o primeiro diz respeito a não querer que isso ocorra; já o segundo é almejar que isso se faça o mais rápido possível. Vamos explorar cada um deles. Desejar não querer acordar vai muito além da realidade convencional, aquela que você está numa cama, o despertador toca e você diz: “- Ah não!”, desejando não acordar, por estar com preguiça de começar seu dia.
Desejar não acordar aqui se refere aos sonhos derivados de momentos singulares que vivenciamos. Sabe aquele momento em que você se sente realizada (o), aquele momento em que você está com a pessoa que você ama, um momento de puro prazer, repleto de sorrisos, de carinho, de alegria, de respiração ofegante, olhos lacrimejantes, aquele momento intitulado por você como sendo especial, que é único, que você não vê o tempo passar…
Pois é, eu já vivenciei isso, já senti tal sensação, é maravilhosa, é como experimentar a eternidade, tendo o tempo congelado, ou pelo menos querer, desejar que ele pause; que congele e não passe, que o tal momento não acabe para não ter de acordar e retornar para a vida real, cheia de percalços, desafios, dor e sofrimento.
Desejar não acordar é isso, é desejar ser eterno ali, agora, é só aquele momento, momento esse que você sabe muito bem se já vivenciou; onde foi, com quem foi… Mas que já passou, e se vier a ter outro semelhante, não será o mesmo, nunca é o mesmo, nunca… Daí o desejo de no momento em si não querer acordar!
O segundo viés do desejo e do verbo acordar, é justamente o oposto, é quando você está passando por uma maré de desafios, dor e sofrimento, dor na alma, desempregada (o), doente, com entes queridos que acabaram de partir, filhos querendo comer e você sem um tostão no bolso… Esses são alguns exemplos de momentos que você deseja ao máximo que acabem, e parecem nunca acabar! Você ‘grita’ para que acorde desse “pesadelo”, mas parece que ninguém te ouve, e isso se arrasta, por horas, dias, meses, anos…
Esse ato de acordar em relação ao tempo é o oposto do primeiro viés, no que diz respeito à sensação do mesmo. No primeiro o tempo voa contra a sua vontade de não querer que ele passe; aqui no segundo é o inverso, você brada para que o relógio ande, mas ele parece congelado, petrificado, sem pilha, parece que o tempo está de mal com você… Comigo (me incluo aqui).
Desejar, acordar, temporalidade e incapacidade de controle, entrelaço perfeito, feliz e ao mesmo tempo angustiante a quem os sente na pele, na alma. Acredito que todos nós já passamos por ambos, e se ainda não, um dia iremos passar.
Basta você estar atento, não há remédio para se livrar do segundo viés, não há pílula mágica que dê conta do primeiro viés, o que há é a realidade, os fatos e os impactos deles em nós aliados a nossa percepção de cada um deles. Isso é a vida, ou pelo menos, parte dela… “- Acordar ou não acordar, eis a questão?!”, eis aí um fardo individual nada democrático.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista