Subiu para três o número de bebês mortos na UTI Neonatal da Maternidade de Campinas. A Secretaria de Saúde da Prefeitura confirmou nesta sexta-feira (24) mais um óbito e informou que a causa da morte será investigada. Não há confirmação se essa terceira morte está relacionada ao quadro de diarreia que acometeua as outras duas crianças falecidas e que já foi controlado. As investigações estão em andamento.
A morte do terceiro bebê foi anunciada nesta quinta-feira (23). A primeira criança faleceu em 6 de fevereiro e a segunda, dia 9. No dia 16, o Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) da Prefeitura interditou leitos da UTI neonatal do hospital e permitiu que apenas 20 deles funcionassem – a Maternidade dispõe de 36 leitos, mas em razão da escassez de vagas na região, chega a receber até 41 crianças. O motivo foi o número insuficiente de profissionais médicos para cuidar do setor.
Os óbitos não ocasionaram a interdição, porém, aceleraram o procedimento, segundo a diretora do Devisa, Andréa von Zuben. “O boqueio tem relação com a falta de profissionais médicos e de fisioterapeutas respiratórios, problema que já havia gerado vários autos de infração pela Vigilância. Como tomamos conhecimento do surto de gastroenterite, achamos ainda mais importante que houvesse a cobertura médica dos profissionais adequada ao número de bebês em atendimento”, confirma.
A Prefeitura justificou que o número insuficiente de profissionais no setor de UTI Neonatal ocasionou autos de infração para a entidade desde o final de 2022.
Várias medidas, apontou a Administração, estão sendo adotadas pelas autoridades sanitárias e um Plano de Contingência para enfrentamento e contenção do surto foi exigido pelo departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) e implantado pelo hospital.
Por meio de nota, a Prefeitura afirmou que a Secretaria de Saúde está transferindo para o Caism da Unicamp e para o Hospital da PUC-Campinas as gestantes com risco de parto prematuro para que, ao nascerem, os bebês sejam internados nas UTIs destes hospitais.
“O Devisa e o Departamento de Gestão e Desenvolvimento Organizacional (DGDO) da Secretaria de Saúde monitoram a situação de assistência das pacientes e das condições sanitárias; medidas estão sendo avaliadas diariamente para adequada condução”, informa o comunicado.
Situação dos leitos em Campinas
Já levando em consideração a interdição de leitos, Campinas dispõe atualmente de 35 vagas de UTI neonatal na Maternidade e no Hospital da PUC. O número, aponta a Prefeitura, é suficiente para atender às necessidades da população do município, de acordo com a Portaria Ministerial 930 (10/05/2012), que estabelece 2 leitos para cada 1.000 nascidos vivos, e com a Sociedade Brasileira de Pediatria, que estabelece 4 leitos para cada 1.000 nascidos vivos. Em 2022, pelo SUS Campinas, nasceram 7.458 crianças.
O problema é que a falta de vagas nas cidades da região acaba por pressionar a oferta e gerar déficit. Contribui ainda para a crise de leitos neonatais de UTI a reforma do Caism da Unicamp, que ocorre desde o segundo semestre de 2021 e tem sobrecarregado os leitos municipais. No ano de 2022, o Caism fez 5,5% dos partos de Campinas.
“A Secretaria de Saúde de Campinas está em contato com a Secretaria de Estado em busca de uma solução, por meio da Diretoria Regional de Saúde 7 (DRS-7), até o momento sem êxito”, anunciou a Prefeitura de Campinas.
“O prefeito Dário Saadi, em reunião da RMC na semana passada, colocou em discussão a necessidade urgente da ampliação de leitos neonatais no Hospital de Sumaré e essa demanda será enviada ao Secretário de Saúde do Estado.”
A Maternidade
A Maternidade de Campinas realiza cerca de 750 partos por mês, dos quais 60% pelo SUS. Por meio de nota, informou que no momento da interdição, a UTI Neonatal estava atendendo acima da capacidade e havia 39 pacientes internados na Unidade Neonatal. A unidade de saúde faz cerca de sete mil atendimentos por mês e emprega quase mil funcionários diretos, além de outros 600 colaboradores indiretos, mas enfrenta grave crise financeira. Em dezembro do ano passado, teve o pedido de recuperação judicial aprovado pela Justiça.
O Hora Campinas aguarda o posicionamento da Maternidade sobre a morte do terceiro bebê.
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