Já reparou como a cidade anda florida ultimamente? O ipê-roxo chega todo frondoso anunciando o inverno, um tempo de recolhimento para a natureza. Nos próximos meses, seremos presenteados ainda com outras floradas, as de ipê-amarelo, de ipê-rosa e de ipê-branco.
A palavra ‘ipê’ vem da língua tupi e significa “casca dura”, a árvore também é chamada de “pau d’arco”, porque antigamente os indígenas utilizavam sua madeira para fazer seus arcos de caça e defesa.
Neste período de inverno, as árvores de ipê, que geralmente são discretas, não passam despercebidas. Sua beleza e colorido chamam a atenção e impactam o olhar, seja pela flores presas aos galhos das árvores ou pelos tapetes floridos que forram o chão quando elas começam a cair.
Penso que foi caminhando num dia de céu azul, ou mesmo cinzento, que poetas e músicos cruzaram com um ipê florido e resolveram eternizar o que sentiram.
Peço licença a eles para reproduzir alguns desses textos e versos que exaltam a beleza dos ipês.
Em seu poema Tempo de Ipê, Carlos Drummond de Andrade destaca o impacto que a florada causa em seu olhar:
Estou florescendo em todos os ipês.
Estou bêbado de cores de ipês,
Estou alcançando a mais alta copa do mais alto ipê do Corcovado.
Não me façam voltar ao chão,
Não me chamem, não me telefonem não me deem dinheiro,
Quero viver em bráctea, racemo, panícula, umbela.
Este é tempo de ipê.
Tempo de glória.
Já Rubem Alves, em seu texto Os Ipês Estão Florindo, faz um convite para sair caminhando pelas ruas e botar reparo na beleza dos ipês-roxos:
“Corra o risco de ser considerado louco: vá visitar os ipês. E diga-lhes que eles tornam o seu mundo mais belo. Eles nem o ouvirão e não responderão. Estão muito ocupados com o tempo de amar, que é tão curto”.
Decido aceitar o convite de Rubem Alves e saio pelo bairro contemplando a beleza dos ipês. Paro, me posiciono próxima do tronco, olho para cima e observo que realmente é um momento só de galhos e flores. Não sobram folhas nos ipês floridos.
Sinto algumas flores caindo sobre a minha cabeça e agradeço por ter tirado esse tempo para registrar em fotos, e em mim, essa sensação.
O céu azul e o colorido dos ipês, que tanto inspiraram poetas, hoje passaram a morar em mim. Percebo que as flores do ipê deixam ainda mais bonita uma escola infantil do meu bairro. Penso que é um presente para as crianças, uma aula de apreciar, na prática, a beleza da vida.
Saio da experiência agradecida pelo privilégio de tirar esse tempo que embelezou meu dia. Obrigada Rubem Alves pelo convite que agora estendo a vocês: ‘Vá visitar os ipês.’
Kátia Camargo é jornalista e também encontrou músicas que falam da beleza dos ipês, dentre elas, Flor do Ipê, de Marisa Monte que pode ser apreciada aqui:
Ouça também Ypê, de Belchior: