O advogado, político e principal líder da oposição de Vladmir Putin na Rússia, na última década, Alexey Navalny morreu na última sexta-feira, 16 de fevereiro, aos 47 anos. Quem acompanhou sua trajetória sabe que ele foi preso e libertado diversas vezes.
Em 2020 foi envenenado por uma substância química neurotóxica novichok, uma arma química criada pela União Soviética entre as décadas de 1960 e 1970. Ele estava em um voo para Moscou, passou mal e acabou sendo levado para a Sibéria e depois transferido para a Alemanha, onde ficou internado por 6 meses. Apesar de quase morrer, conseguiu sobreviver ao envenenamento.
Mesmo tendo sido avisado para ficar longe da Rússia ele não o fez. E quando retornou do tratamento que fez na Alemanha foi preso na frente de dezenas de câmeras, com milhões de pessoas assistindo. Considerado o inimigo número um do presidente russo, ele cumpria 30 anos de prisão, por ‘extremismo’. Para ele, a política era ação, não apenas democracia e teoria, talvez por isso ele tenha escolhido voltar e ser preso, mesmo que o desfecho fosse sua morte, como ocorreu.
Navalny era advogado e surgiu como uma figura pública por volta de 2010.
O ativista defendeu os direitos aos migrantes e documentar a corrupção. Ele construiu um movimento baseado na premissa de que os cidadãos, mesmo na Rússia, poderiam e deveriam exercer controle sobre a maneira como o dinheiro do governo é gasto. Ele se concentrou, cada vez mais, não apenas no poder político, mas no bem-estar social.
Durante os últimos três anos, ele usou o púlpito fornecido por uma série interminável de audiências judiciais para transmitir suas opiniões políticas. Em 20 de fevereiro de 2021, ele delineou uma visão para um país com um melhor sistema de saúde e uma distribuição mais equitativa da riqueza. Ele propôs mudar o slogan de seu movimento político de “A Rússia será livre” para “A Rússia será feliz”.
Navalny não conseguiu cumprir a promessa que havia feito de sobreviver e liderar o que ele chamou de Bela Rússia do Futuro.
Sua viúva, Yulia Navalnaya, afirmou que continuará a luta de seu marido por uma Rússia livre.
Ritual que se chama de eleição
Em aproximadamente um mês, a Rússia realizará um ritual que chama de eleição. Sem alternativa real a Putin, que tem controle total da mídia e das chamadas instituições eleitorais, o atual presidente russo será coroado por mais um mandato de seis anos, estendendo seu tempo no poder para 31 anos.
Navalny tentou concorrer contra Putin há seis anos, mas o sistema manipulado o impediu. Seu próprio nome foi banido das ondas de rádio.
Ainda assim, mesmo quando o sistema o excluiu e, mais tarde, quando o colocou na prisão, Navalny permaneceu o oponente mais forte de Putin.
Navalny foi morto no primeiro dia da conferência de Munique. Em 2007, Putin escolheu a conferência como seu palco para declarar o que se tornaria sua guerra contra o Ocidente. Agora, com essa guerra em pleno andamento, Putin foi excluído da conferência, mas as ações de seu regime – os assassinatos cometidos por seu governo de repressão política – dominam os procedimentos.
Os apoiadores de Navalny têm colocado flores em memoriais de várias cidades.
Mas a polícia russa reprime as manifestações. De acordo com organizações de direitos humanos, mais de 350 pessoas foram presas, em 21 cidades.
A pergunta que não quer calar: e agora sem Alexey Navalny?
Luis Norberto Pascoal é empresário, empreendedor e incentivador de projetos ligados à educação e à sustentabilidade. A Fundação Educar Dpaschoal é um dos pilares de seu trabalho voltado ao desenvolvimento humano e social.