Quem nunca pensou em ser um super-herói ou uma super-heroína que atire a primeira pedra. Ainda que muita gente trate o lúdico como “coisa de criança”, eu acredito que ele tem muito a nos acrescentar em qualquer fase da vida – sim, mesmo se você for adulto. Originado da palavra latina “ludus”, o termo ludicidade pode ser traduzido como “jogo” ou “brincar”. Assim, a gente pode pensar na ludicidade como uma lente colorida para o mundo, capaz de ampliar a nossa compreensão da realidade de um jeitinho divertido e dinâmico. E o mais legal é que essa lente pode ser usada por qualquer pessoa e em qualquer situação, sendo extremamente importante para a construção das nossas habilidades cognitivas, socioafetivas e psicomotoras.
Livros são, por natureza, instrumentos de grande ludicidade – especialmente quando apresentam narrativas leves e delicadas para abordar questões da vida cotidiana. Um dos maiores exemplos dessa lógica é a obra “Nem te conto – Espectro de contos”, cujas histórias foram produzidas por cinco pessoas do Transtorno do Espectro Autista (TEA): o Matheus (12 anos), o Ygor Daniel (12 anos), o Igor Rafael (11 anos), a Maria Vitória (13 anos) e a Bianca (43 anos).
Atualmente, todos são atendidos pela Associação para o Desenvolvimento dos Autistas em Campinas (Adacamp) e pelo Projeto Apoderar, uma iniciativa de empreendedorismo social desenvolvida por estudantes da Enactus Facamp com o intuito de fortalecer a proposta de valor da Adacamp.
Desde sua implementação em 2019, o Projeto Apoderar tem atuado como uma ponte entre a Adacamp, a sociedade civil e a iniciativa privada. Em um time composto por 7 membros e 1 liderança, o Apoderar visa não apenas conscientizar a população geral sobre o que é o TEA, como também utiliza dos princípios do empreendedorismo social para contribuir diretamente com a Associação.
Partindo desses princípios, “Nem te conto” nasceu com um propósito tão mágico quanto as histórias que contém: gerar renda para que a Adacamp fortaleça sua infraestrutura e reduza a fila de espera para pessoas do TEA que desejam ser atendidas pelos seus programas.
Como destaca Bruno Gonçalves, de 21 anos, atual líder do Projeto: “Nós poderíamos ter escolhido qualquer produto, mas essa opção [de produzir um livro] foi a que mais deu protagonismo para os atendidos, contribuindo com outro objetivo nosso que é a desmistificação do Espectro Autista.”
Assim, mais do que uma solução para o problema da fila de espera, o livro foi produzido com o intuito de apresentar a perspectiva de cada contador de histórias acerca das suas vivências, trazendo como pano de fundo para as narrativas campinhos de futebol, passeios na praia e muito mais.
Em cerca de 90 páginas recheadas de ilustrações, os cinco tiveram a oportunidade de soltar as suas vozes e (re)imaginar um mundo onde eles têm poderes mágicos ou até mesmo títulos reais.
Por causa disso, “Nem te conto” é capaz de empreender o lúdico para fortalecer o diálogo entre crianças e adultos acerca de pautas como inclusão social e protagonismo representativo. Disponível para venda na plataforma do Cheers Shop, a obra promete ser uma leitura essencial para quem busca conhecer mais sobre o espectro e apoiar uma associação que é referência na sua área de atuação!
Rafaela Obrownick, 20 anos, é estudante de Relações Internacionais da Facamp