Às vezes reflito o quanto vivemos no imediatismo e esquecemos de simplesmente viver. Parece que tudo entra no famoso piloto automático e vamos seguindo sem pausa, sem perceber as coisas simples da vida e com um milhão de metas diárias (que nem sempre são cumpridas).
Ah, se pudéssemos parar o tempo… Onde e com quem você estaria nesse momento? Não sei você, leitor, mas tenho a impressão de que estamos vivendo cada dia mais em busca da produtividade e se não damos o nosso 100% ficamos frustrados.
No meu dia a dia vejo muito isso. Na faculdade sempre encontro alguém que vai “reclamar” sobre o excesso de tarefas, não só das demandas do curso, mas da vida como um todo, e não estão errados. Nossos dias são pautados em acordar, produzir, entregar, entregar, entregar e entregar.
No meio disso tudo, tenho parado para viver (ou pelo menos tentar) o agora. E você? É uma tarefa muito difícil, e em vários momentos acabo falhando porque me pego entrando novamente no ritmo da produtividade exacerbada.
Eu gosto sempre de trazer casos que acontecem comigo, e nesse texto não será diferente. Eu atendo, na clínica fonoaudiológica, uma paciente de 62 anos de idade com disartrofonia – dificuldade na execução motora que pode comprometer além da produção fonatória, a respiração, a ressonância, a articulação e a prosódia. A maior queixa dela é, claramente, a fala.
No primeiro dia de atendimento ela me fez um pedido: “As pessoas nunca entendem o que eu falo, você vai me ajudar, né?”, Naquele momento vi uma importância muito grande nos atendimentos. Coloquei aquele pedido como uma meta. Trabalhamos com texto, escrita e agora estamos usando a música como recurso terapêutico.
Nesses últimos dias, quando vou atendê-la parece que o tempo passa em 1 segundo, vejo que o meu “carpe diem” – expressão em latim que significa “aproveite o dia” – acontece muito nesses momentos de atendimento.
Isso passou a acontecer, ainda mais, quando ela me falou das músicas que gosta de ouvir. Trabalhei na terapia fonoaudiológica, a prosódia e articulação usando a letra da canção “É” do músico e compositor Gonzaguinha. Eu não conhecia, e ao cantar com ela vi o quanto faz sentido a letra com diversos momentos da nossa vida:
“É
A gente quer carinho e atenção
A gente quer calor no coração
A gente quer suar, mas de prazer
A gente quer é ter muita saúde
A gente quer viver a liberdade
A gente quer viver felicidade”
Ao cantar, ela se emocionava relembrando os seus 62 anos. Ao final, articulando super bem suas falas, comentou comigo sobre o dever de aproveitar a vida. E é com essa reflexão que passei a pensar no quanto viver só pela produtividade não vale a pena.
Temos que olhar para o nosso “eu” e reconhecer quando precisamos de um café, de um encontro com uma amiga, de olhar nos olhos das pessoas e acima de tudo respeitar os nossos limites e aproveitar o momento como deve ser: com qualidade e compaixão a nós mesmos. E você tem vivido tudo que há para viver?
Rafaela Negretti, 23 anos, é determinada e está sempre aberta para o novo. Atualmente cursa fonoaudiologia na Unicamp.