Cresci escutando minha mãe falar: “Se cada pessoa plantasse um pé de fruta na sua calçada ninguém passaria fome, nem gente e nem passarinho” (fome de fruta). Sempre achei tão bonito e potente isso, afinal ela nasceu em Casa Branca, que é a capital estadual da jabuticaba e tem pelo menos um pé de jabuticaba para cada um de seus 30 mil habitantes. Eu, que sou apaixonada pela fruta, posso dizer que a cidade é quase um pedacinho do paraíso, pois além da fruta in natura, tem geleia, sorvete, licor e, mais recentemente, um festival gastronômico de jabuticaba.
Em Campinas, sempre que caminho pelas ruas do meu bairro e encontro árvores frutíferas na calçada, lembro dessa fala da minha mãe. Dia desses me deparei com uma calçada que a pessoa colocou plaquinhas identificando os nomes das frutas. “Meu nome é limão galego”, “Meu nome é limão cravo” e colocou também dois outros avisos: “Cuidado com os espinhos” e “Favor deixar dar fruto”.
Achei tão interessante a iniciativa e a forma escolhida para conscientizar as pessoas do tempo de espera para a fruta estar boa para ser colhida.
Depois disso resolvi fazer uma pesquisa pelo bairro com o meu marido e fomos procurando as calçadas que têm árvores frutíferas. Encontramos outras variedades de limão, manga, goiaba, ameixa, abacate e, a queridinha do momento que invadiu o bairro, amora (tenho amor por elas também).
Setembro, a primavera é tempo de colheita de amoras, o que para mim é praticamente um evento. Adoro sair pelo bairro e imediações, que estão repletos de pés de amora. Faço muitas colheitas em diferentes locais durante a safra, pois adoro geleia e suco de amora.
Um dos meus pés de amora preferidos (tenho vários) fica em frente à horta do “Seu Pedro”, um pouco longe do meu bairro. Já escrevi sobre ele aqui e se quiser conferir ou dar uma passadinha por lá, quem sabe a gente se encontra. Enquanto eu colhia as frutas nesse local, já escutei várias histórias da procedência dessa amoreira. Uma delas é que teria sido plantada pelo já falecido ex-prefeito Jacó Bittar.
Outra conta que uma senhora transplantou o pé de amora que estava na casa dela para a praça e que ela ficava brava quando via as pessoas colhendo as amoras. Não sei qual dessas a histórias é real, mas eu sigo por aí colhendo as amoras.
Também quero fazer parte das pessoas que têm uma árvore frutífera na calçada. Na calçada que divido com a casa da minha irmã há um pé de pitanga crescendo. E espero que quando começar a produção possa ser desfrutada por muitas pessoas e passarinhos.
E vocês, têm pé de fruta em seus bairros? Se tiver, e quiser partilhar as fotos, meu e-mail é [email protected]
Kátia Camargo é jornalista e escrever sobre as frutas do bairro a emocionou, pois a fez se lembrar de uma fala tão potente da sua mãe, que, em sua simplicidade, ensinava todos os dias sobre respeitar e amar a natureza, pensar no próximo e se conectar com toda a beleza da vida olhando para a simplicidade da vida.
Para a sua mãe, que morreu em 2012, ‘felicidade sempre foi só questão de ser’ como nesta canção linda do Marcelo Jeneci: