A cada 15 dias, um grupo de moradores do Satélite Iris, em Campinas, se reúne no Projeto Gente Nova (Progen), para participar da biblioterapia, uma atividade que faz parte do projeto Ler para Imaginar, que ocorre desde março, e é realizado com recursos do ProAC – Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo. O Ler para Imaginar tem promovido um encontro com a leitura tanto para crianças quanto para os adultos e impactou pelo menos 40 famílias diretamente e 15 educadores do Progen.
A biblioterapia pode ser definida como a arte de cuidar por meio das histórias e faz uso da leitura como uma forma de criar um espaço para o acolhimento, para a expressão, para a escuta, para fortalecer os vínculos. Geralmente as mulheres sentam em círculo e no centro fica uma mandala de livros. “A proposta é sempre ter o livros expostos em rodas. Isso representa o conhecimento circular que vai e volta”, conta a psicóloga Dioneia Tozzi.
O encontro da biblioterapia que carinhosamente é chamado de ‘café com prosa’ ocorre aos sábados e traz assuntos do dia a dia, conflitos, desafios, violências, abusos para a roda de conversa. Todos esses temas vão sendo costurados com leituras de poemas, poesias, trechos de livros e trazendo muitas reflexões para quem participa do projeto.
Dentre as leituras que já foram partilhadas durante o ano estão: A Força da Palmeira, de Anabella Lopez; A Flor do Lado de Lá, de Roger Mello, O Casaco de Pupa, de Elena Ferrándiz, Apesar de Tudo, de Dipacho, Ernesto, de Blandina Franco, entre outros títulos e autores.
“Trata-se de um espaço muito importante que foi construído com os participantes e que seguirá para além do projeto, pois no decorrer dos encontros foi sendo criado um vínculo entre os frequentadores que fortaleceu o senso de comunidade dessas pessoas. Os livros também foram levados para casa, mas tivemos também a oportunidade de criar um poema coletivo. A força da leitura, da escrita fez parte de todos os encontros.”, diz a psicóloga.
Livros que entrelaçam e conectam histórias
Leia Ribeiro Gonçalves frequenta os encontros desde março e conta que passou a se conectar mais com os vizinhos. “Os livros, os poemas, as conversas e ter a oportunidade de escutar a história das pessoas que moram perto de casa tem sido uma forma de me aproximar mais das pessoas”, conta.
Já Diadema Paixão conta que gosta muitos das leituras que ocorrem no grupo, tanto que levou a experiência para dentro de casa. “Muitas histórias que escuto no grupo, depois reúno meus netos e leio para eles. Juntos nós aprendemos muito!”, conta Diadema.
Luci Ribeiro de Sousa também levou alguns livros para ler em casa e gostou bastante. “Aprendi muito com as histórias que escutei dos livros, mas também com as histórias das nossas vidas e experiências que dividimos. E acho bonito no encontro que existem pessoas de todas as idades que participam do grupo e trocam suas vivências conosco. Saímos muito mais fortalecidas e passamos até a mudar nossas atitudes”, diz.
Sobre o Ler para Imaginar
O projeto Ler para Imaginar é realizado com recursos do ProAC – Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, com parceria do Projeto Gente Nova (Progen), e apoio da Girassol Caminhos Criativos.
Além da biblioterapia, conta com atividades voltadas às crianças e um curso de mediação de leitura e biblioterapia para os educadores do Progen.
Kátia Camargo é jornalista e teve a honra de conhecer a biblioterapia. Achou a experiência revolucionária, pois viu a força e impacto da leitura em cada um dos participantes. Sentiu que o projeto vai muito além dos livros, promovendo a união da comunidade. Escolheu a música E Eu, de Jesus Lumma, que define muito o sentimento que viveu durante a manhã de sábado que passou por lá. Tem certeza que sem o outro não somos ninguém!