“Viver é isso: buscar a totalidade, não a perfeição!”, é com essa expressão de um dos grandes nomes da Psicanálise Carl Jung que iremos iniciar tal reflexão, ele expõe uma excelente teoria chamada de Arquétipos e que dentre vários, escolhi apenas dois, que são extremamente atuais e pertinentes nos dias de hoje: Sombra e Máscara. Você aceita refletir comigo sobre essa temática? Obrigado por aceitar, então vamos à ela.
Jung têm, dentre vários Arquétipos, os da Sombra e da Máscara. Segundo ele todos nós temos nosso lado sombrio, e aqui não estamos falando de nada tenebroso, assustador como vemos em filmes de Hollywood, mas trata-se de um lado inconsciente onde armazenamos nossas diversas emoções e instintos primitivos, são de alguma forma tidas como essências do ser humano recalcadas onde há, por exemplo, medo, fúria, raiva, rancor, ódio, tristeza, luto, baixa autoestima, ira, ansiedade, insatisfação, angústia, desejos…
Conhecer nosso lado sombrio, segundo Jung, é extremamente fundamental, e por vezes não é fácil fazer isso sozinho, para tanto ele sugere a busca por auxílio de profissionais qualificados. Segundo ele: “Ninguém se ilumina imaginando figuras de luz, mas se conscientizando da sua própria escuridão!”.
Ou seja, ele vai contra a chamada autoajuda que está em alta na contemporaneidade na qual os coachs pedem para a pessoa fechar os olhos (e ao fundo com uma música zen) pede para você imaginar momentos nostálgicos, em que sentia alegria, paz… Isso torna-se eficiente, mas dura em torno de apenas meia hora, trata-se apenas de um paliativo, tanto é que pessoas passam um final de semana todo em eventos motivacionais e na segunda-feira todo o ânimo adquirido no evento se evapora, voltando a rotina e com ela o estresse e as frustrações…
Uma vez que exploramos o Arquétipo da Sombra que segundo Jung, todos nós o possuímos, pois herdamos da essência e tradição cultural, é hora de abordarmos o outro Arquétipo que citei anteriormente, o da Máscara, esse é o que “esconde” os impulsos, a nossa suposta essência existencial contidos em nossa sombra.
A Máscara é feita por diversos papéis sociais, o paternal/maternal, de filho (a) (familiar em geral), o profissional, o social com amigos, vizinhos, sugerindo uma postura de ator, de atriz em meio ao “Teatro da Vida” que suscita reconhecimento e aplausos sejam eles fisicamente ou virtualmente.
Jung expôs o seguinte: “O arquétipo da Máscara, (do grego representa a máscara usada pelos atores nas peças teatrais na Antiga Grécia, exposta em diversas obras como a Poética de Aristóteles) diz respeito ao que é esperado socialmente de uma pessoa e a maneira como ela acredita que deve parecer ser”. Compete, portanto ao sujeito encontrar um meio termo para não viver como refém de suas sombras, gastando energia mental para aprisiona-las sem sequer enxergá-las para manter uma persona que criou e precisa mantê-la socialmente.
Lidar com traumas, frustrações, emoções distintas pode sim doer, pode sim incomodar, mas elas se não ressignificadas, se não trabalhadas, se não iluminadas, podem acarretar em doenças psicossomáticas e em médio prazo levar a pessoa a precisar recorrer a medicamentos psiquiátricos.
Estamos obcecados pelo modelo da perfeição, modelos ideais que queremos mostrar (como já expôs Platão, filósofo grego), encarnar, vestir e encenar no dia a dia. Este lado obscuro da personalidade fala através de sonhos, envia recados através da ansiedade e dores, quer ser ouvido, escutado e acolhido, porque ele pensa, sente e age completamente diferente de nós (do lado consciente).
Queremos fazer sobressair uma personagem que não somos, uma máscara que não nos pertence, que não é verdadeira, mas que é aceita, valorizada e reconhecida pelos outros.
Freud trataria isso como o ID, o inconsciente gritando para ser ouvido e receber atenção e o EGO (consciente) que não quer escândalo e opta por viver em uma suposta zona de conforto social. Aqui também podemos inserir transtornos de personalidade, pois hora estamos em um papel, hora noutro, dadas as diversas circunstâncias. Isso é um enorme risco para a identidade de uma pessoa.
Jung defende os arquétipos primitivos que temos em nós, Freud defende que nascemos com instintos (ID), Lacan, Locke, Sartre são filósofos que não defendem uma essência humana. Lacan expôs certa vez “Não me pergunte quem sou; não me peça para permanecer o mesmo!”, Locke defendeu que somos tal como uma folha em branco, Sartre expôs que a existência precede a essência, nesses casos criamos nossa essência, nossa persona, escolhemos quais as máscaras optamos por utilizar, quando, aonde, com quem…
Reconhecer o lado escuro das nossas sombras, dar-lhe espaço, não subjugá-lo, mostrar disponibilidade para acolher o que há de oculto emocionalmente, abre o caminho para uma vida equilibrada, pois, muitas crises e traumas nascem porque resistimos, porque não conseguimos acolher, entender e decifrar os pedidos e as mensagens do inconsciente e nos acostumamos a viver nem uma zona de conforto desconfortável aderindo a mais de uma identidade social, a máscaras.
A partir dessa reflexão, fica o convite para você olhar mais para dentro do que para fora, dar ouvidos aos gritos do corpo e menos importância às críticas nada construtivas advindas do lado externo. Um grande abraço.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial