“Você sabe com quem está falando”?. A pergunta que lhe faço desde já é se você sofre com algum tipo de intimidação social, com algum ato coercitivo vindo de terceiros (seja de grupos, seja de apenas uma pessoa). A pauta de nossa reflexão de hoje estará embasada nessa temática, denominada como Microfísica do Poder do filósofo francês Michel Foucault. Você topa me acompanhar nessa empreitada reflexiva? Ótimo, então venha comigo.
Foucault é um grande nome da filosofia, tem um livro intitulado Vigiar e Punir que contém uma belíssima reflexão sobre o sistema no qual, querendo aceitar ou não, estamos inseridos, e tal sistema embasa a temática do Teatro da Vida. Quando pensamos em política é quase comum que venha à mente os poderes municipais, estatais e federais, como prefeitos, governadores, presidente, mas essa é uma parte da política, considerada como Macrofísica, essa sim é visível e de fácil acesso para quem quer que seja mediante o interesse de se constatar atos e omissões no tocante ao trabalho desses que nos representam.
A microfísica do poder, teoria de Foucault, se baseia no sistema do discurso coercitivo que molda o Ser. Esse sistema é cultural, passível de mudanças temporais, porém faz-se presente na sociedade nos mais diversos polos.
Quer um exemplo da Microfísica do Poder? A arrogância quando alguém aborda uma pessoa, lhe chamando a atenção e esta dá uma devolutiva indagando grosseiramente: “Você sabe com quem está falando?”. Aqui temos um exemplo no qual a arrogância é sinônimo de poder, e esta faz-se presente na política, no convívio social, no teatro da vida entre os mais variados personagens.
Pense você aí ser abordado por alguém que lhe humilhe dizendo que você não mora em um renomado condomínio de luxo, muito menos tem um carro importado, um celular de última geração, um cargo de alto prestígio empresarial, um currículo invejável…
Eu me pergunto: por que ouvir isso? Ou me coloco no lugar de quem fala: por que expor isso? Há ali uma necessidade de ser visto, notado, de preencher um vazio existencial, uma necessidade de satisfação pessoal exercendo poder, advindo de uma cultura, quiçá familiar, ou do meio social em que cresceu e convive?!
A Microfísica do Poder está espalhada e faz-se presente mediante os discursos sociais. A filosofia da estética trabalha muito bem tal pauta ao refletir sobre os padrões de beleza, de perfeição, de sucesso, modelos a serem seguidos expostos em redes sociais, por exemplo.
Se você não estiver naquele patamar, sua vida não é adjetivada como uma vida de sucesso! Se você não tiver tais referências como modelo ideal de vida boa, você estará precisando passar por acompanhamento psicológico, se você tentar correr atrás de tais padrões e não consegui-los, você será rotulado como uma pessoa fracassada!
E a chamada “Cultura do Cancelamento Virtual”: o que você acha sobre um determinado grupo de pessoas, com uma determinada cultura, com um determinado valor, princípios “apontar o dedo na cara de fulano, sicrano e beltrano” dizendo que ele está errado, como se tal grupo fosse a personificação incorporada da Lei?
Um poder que é passível de excluir, de manchar, de machucar a imagem de uma pessoa, sua reputação, comprometendo sua vida, sua saúde mental e a dos familiares que ali estão envolvidos é de fato benéfico?
Ao pensarmos no teatro da vida, com o palco onde todos têm acesso e/ou assistem ao espetáculo midiático, é possível perceber que tais personagens não podem fugir ao roteiro que lhes foi imposto pelo diretor (o sistema/ patrocínios). Já percebeu que basta alguém midiático expor uma frase que não é aprovada pela “cartilha da vida ideal do bom ator/ artista”, e após isso vem a “pagar o preço” sofrendo processos, exclusão midiática e social, perdendo patrocínios?
É necessário manter o arquétipo da Persona, como descreveu o grande psicanalista Jung. Estamos inseridos em um sistema no qual poucos mandam, no qual poucos são os diretores, alguns são protagonistas (e esses pagam um preço maior se cometerem erros) e a maioria é apenas mero figurante nesse teatro, o que não os isenta de sofrerem a repressão política/ social advinda do sistema Microfísico exposto pelo grande filósofo francês Michel Foucault.
Quando pensamos em política, volto a me referir que tal conceito vai muito além do que geralmente se costuma interpretar como sendo o de candidatos de terno e gravata em Brasília. O meio político é aquele no qual estamos inseridos, passível de convergência e divergência de opiniões.
Segundo o grande pensador Aristóteles “Somos um animal político por natureza”, o que faz pensar que necessitamos de convívio, precisamos de um Outro! Estar inserido em sociedade é construir Personas para diversos papéis e ambientes, e se adequá-los a eles e, “para viver bem”, é importante que não se ouse se opor ao sistema invisível repressor e coercitivo que se sobrepõe aos cidadãos.
Eis aí a Microfísica do Poder, ao qual estamos inseridos sem nem sequer nos darmos conta, nos moldando em nossos personagens nesse teatro social e midiático, sorrindo em cima do palco e chorando ansioso, depressivo nos bastidores, quiçá com pensamentos de fracasso por não estar atingindo o objetivo catalogado como o de uma pessoa bem-sucedida, quiçá angustiado, querendo sumir por estar no auge, porém refém desse status “vazio”.
Thiago Pontes é filósofo, professor e neurolinguista (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial