Em janeiro de 1991, o grupo norueguês A-ha entrou para o livro dos recordes ao estabelecer o maior público pagante da história da música. Reuniu cerca de 200 mil pessoas na segunda edição do festival Rock in Rio, realizado no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.
Apenas quatro meses depois da apoteose em solo carioca, a banda aportou em Campinas para tocar no estádio Brinco de Ouro da Princesa, que completa 68 anos de existência nesta próxima segunda-feira (31). A histórica e até hoje inédita passagem do A-ha pela cidade ocorreu há exatos 30 anos e o Hora Campinas relembra a ocasião envolvendo um dos maiores fenômenos do pop rock mundial.
No primeiro semestre de 1991, o trio formado pelo vocalista Morten Harket, pelo guitarrista Paul Waaktaar-Savoy e pelo tecladista Magne Furuholmen percorria o mundo com a megaturnê “Walk Under Sun, Dance Under Moon”, referente ao quarto disco “East of the Sun, West of the Moon”, lançado em outubro de 1990.
O sucesso estrondoso no Brasil, então responsável por mais de 2 milhões de cópias vendidas de álbuns da banda, abriu portas para uma extensa excursão pelo país, a maior já realizada até aquele momento. A turnê teve início no dia 17 de maio de 1991, em Brasília, seguindo por Goiânia, Belo Horizonte e Uberlândia.

O A-ha chegou a Campinas no dia 21 de maio de 1991, às vésperas de uma greve geral contra medidas econômicas do Plano Collor. Originalmente agendado para o dia 22 de maio, o show no Brinco de Ouro precisou ser adiado por cinco dias por conta da paralisação dos trabalhadores, ocorrida nos dias 22 e 23.
Como consequência disso, a banda tocou primeiro em Ribeirão Preto e São Paulo, antes de sacudir o público campineiro, no dia 27 de maio. A apresentação no campo do Guarani contou com um setlist composto por 19 músicas, incluindo grandes sucessos como “Take On Me”, “Hunting High and Low”, “Stay On These Roads”, “You Are The One”, “Crying In The Rain”, “Early Morning” e “I Call Your Name”.

Ao término do show, os integrantes do A-ha estenderam a noite até a antiga boate Anonymat, que ficava localizada na esquina da Rua Paula Bueno com a Rua Osvaldo Cruz. O local, que tinha como um dos sócios o empresário Dixon Carvalho, posteriormente prefeito de Paulínia, não funcionava às segundas-feiras, mas uma exceção foi aberta para atender o desejo de curtição do grupo.
Alocados em um dos camarotes da casa, os rapazes do A-ha não resistiram à tentação e resolveram descer para “dar uma canja”, dividindo palco com a banda campineira Artigo 26.

“Esse episódio foi uma coisa muito marcante na nossa vida, inesquecível até hoje. A gente estava tocando e de repente o pessoal do A-ha apareceu dançando na pista. Depois, cedemos os nossos instrumentos para eles. Parecia brinquedo de criança perto do equipamento que costumavam usar, fora da nossa realidade”, brinca o músico Mauricio Rosa, fundador e baixista do Artigo 26.
“Os caras subiram no palco com uma postura bem humilde, como se fossem nossos amigos. Durante quase duas horas, tocaram repertório próprio e mais algumas músicas que gostavam. Houve um momento em que o vocalista ficou ajoelhado na frente das caixas de retorno cantando com as meninas que queriam tietá-lo. Foi um negócio bem intimista. Depois do show, a gente conversou um pouco com eles, apesar do nosso inglês bastante limitado”, acrescenta Sérgio Grande, então guitarrista do Artigo 26.
Durante a permanência de quase 10 dias no estado de São Paulo, os músicos do A-ha ficaram hospedados no hotel Royal Palm Plaza e foram transportados pelos ônibus da empresa de viação Caprioli Turismo, de Campinas.
“Na época, a gente transportava muitas bandas e artistas que vinham para São Paulo, como Michael Jackson, Guns N’ Roses e Faith No More. No caso do A-ha, o que nos surpreendeu é que eles preferiram ficar em Campinas, mesmo tendo shows na capital. Como eu falava inglês fluente, acompanhei a banda em algumas atividades na cidade, sempre indo junto no ônibus, então houve todo esse charme da convivência”, relembra Alexandra Caprioli, atual diretora de Turismo de Campinas, que revela um episódio curioso envolvendo o vocalista Morten Harket. “Ele gostava muito de plantas e flores, então a gente o levou até um produtor de orquídeas”, conta.
Alexandra Caprioli também atuou na organização do evento na Anonymat, que terminou com a performance inesperada do A-ha. “Convencemos o dono da boate, convidamos o Artigo 26 e tivemos a ajuda do Gustavo Pinheiro, diretor da rádio Educadora, que fez uma promoção com os ouvintes para distribuir convites para a festa”, relata Alexandra. Mal sabiam eles que o A-ha decidiria dar um show privê surpresa.
“Eles mesmos se ofereceram para tocar, ninguém pediu, então foi muito legal. Estavam totalmente à vontade naquele ambiente. Todo mundo que estava nesse show da Anonymat teve a mesma sensação de estar vendo uma coisa que possivelmente nunca mais se repetiria”, aponta Alexandra Caprioli.
O publicitário Mauricio Gomes dos Santos, que à época trabalhava na Caprioli Turismo, também estava presente na Anonymat naquela mágica noite de 27 de maio de 1991. Segundo ele, essa casa noturna era uma das poucas opções de entretenimento em Campinas naquele período. “Na época, a cidade não tinha muitos atrativos. Havia somente o shopping Iguatemi e os bares do Cambuí que faziam sucesso, além da Anonymat, que trazia nomes como Ira!, Lobão, Titãs e Paralamas”, recorda-se Gomes.
Após encerrar a estadia em Campinas, o A-ha seguiu para o Nordeste, onde tocou em Fortaleza, Recife, Aracaju e Salvador. A turnê sul-americana ainda se estendeu a Porto Alegre, além de Bueno Aires, na Argentina, e Santiago, no Chile.
Os rapazes do A-ha resolveram “dar uma canja” na boate Anonymat:
A-ha de volta ao Brasil em 2022
Com sete passagens pelo Brasil, sendo a primeira delas em 1989 e a mais recente em 2015, o A-ha retornará ao país no ano que vem, como parte da turnê comemorativa de 35 anos do álbum de estreia “Hunting High and Low”.
Inicialmente prevista para setembro de 2020, a excursão pela América do Sul foi adiada para agosto deste ano, mas precisou ser novamente alterada por conta da situação crítica da pandemia de Covid-19 no continente. Em 2022, a banda se apresentará em cinco cidades brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Salvador. As datas serão anunciadas em breve.
Documentário sobre a banda
Formado em 1982, em Oslo, na Noruega, o A-ha terá a sua história de quase quatro décadas contada no documentário “A-ha The Movie”, cujo trailer foi divulgado no último dia 21. A estreia do filme acontecerá neste mês de junho, no Tribeca Film Festival, em Nova York. O longa-metragem também será exibido nos cinemas da Europa, mas ainda não há informações se chegará ao Brasil. Com imagens de arquivo e depoimentos dos integrantes da banda, o documentário mostrará como três jovens noruegueses alcançaram o estrelato mundial nos anos 80 e 90.
Confira abaixo o trailer do filme: