É hora de governo e iniciativa privada intensificarem o trabalho para reduzir os riscos de saúde mental causados pelas redes sociais nos jovens, é o que diz o Dr Vivek Murthy, cirurgião-geral dos Estados Unidos, um dos principais cargos de saúde pública do país.
Conforme notícia publicada em The Harvard Gazette, cobrindo a palestra da autoridade na faculdade, Murthy apontou que impacto das plataformas digitais no bem-estar dos adolescentes é uma questão fundamental na saúde pública, e que apesar de até agora, a responsabilidade de como jovens e crianças lidam com a internet ter sido circunscrito a uma questão familiar, está claro que resolver o problema exigirá um esforço mais amplo que envolve toda a sociedade.
Os comentários do especialista e suas preocupações têm bases diversas, inclusive estudos conduzidos pelo próprio setor que chefia. Por exemplo, uma pesquisa recente apontou que, em média, os adolescentes chegam a passar 4,8 horas por dia nas redes sociais.
Enquanto um outro estudo demonstrou que crianças e adolescentes que passam mais de três horas diárias em redes sociais tem duas vezes mais risco de desenvolver ansiedade e depressão comparados aos que não abusam dessas redes.
É uma realidade preocupante e que se estende também ao Brasil, onde as crianças chegam a passar uma média de quatro horas no celular.
“Assim como os padrões de segurança veicular tornaram dirigir mais seguro, exigindo cintos de segurança, airbags, assentos de carro e testes de colisão, os formuladores de políticas públicas devem agir com base em uma abordagem de segurança em primeiro lugar e estabelecer diretrizes para proteger a privacidade e o bem-estar das crianças”, disse Murthy durante o evento que marcou também o lançamento do Centro de Prosperidade Digital, na Harvard Graduate School of Education.
Ele aponta que as empresas de tecnologia, tal como montadoras, devem ser responsabilizadas por não fazer o suficiente para mitigar os danos que as redes sociais causam na saúde mental e no bem-estar das crianças.
“Se não colocarmos padrões de segurança em vigor e fornecermos mais apoio aos jovens e a seus pais, vamos olhar para trás, daqui a cinco ou dez anos, e dizer: ‘O que estávamos pensando?’” Disse Murthy no evento.
“Nós liberamos essa máquina no país sem nenhum contrapeso, sem qualquer acompanhamento, sem qualquer responsabilidade”, disse ele. “Estamos atrasados no que trata de cuidar das crianças em relação às redes sociais e protegê-las contra danos. Temos que tapar essa lacuna.”
Ele alertou ainda que as redes sociais surgiram há quase 20 anos e a falta de diretrizes que protejam a saúde mental do usuário e, principalmente, garantam a segurança de crianças é alarmante.”
A recente aprovação da Lei do Código de Design Apropriado para a Idade da Califórnia, que estabelece salvaguardas para crianças e adolescentes on-line, bem como os crescentes apelos para que as empresas de tecnologia implementem um design adequado à idade do usuário — no Brasil podemos destacar as tratativas pelo governo federal de um projeto de lei que prevê responsabilizar as redes por seu conteúdo — fazem Murthy se sentir esperançoso. Mas ele aponta que o problema continua urgente.
“Nosso trabalho, como pais, educadores e pessoas que se preocupam com as crianças, é garantir que as crianças tenham uma base sobre a qual possam construir uma vida saudável e gratificante, e isso significa criar uma experiência digital saudável e segura para elas”, conclui Murthy. “É aí que eu sinto que precisamos continuar a tornar isso uma questão urgente.”
Luis Norberto Pascoal é empresário, empreendedor e incentivador de projetos ligados à educação e à sustentabilidade. A Fundação Educar Dpaschoal é um dos pilares de seu trabalho voltado ao desenvolvimento humano e social.