Por muito tempo, fomos educados, em casa e nas escolas, que a forma correta de se organizar uma sociedade era binária. Homens e mulheres. Nada mais. Qualquer outra maneira era errada, punível e, até mesmo, digna de repulsa. Tempos sombrios que, infelizmente, permanecem até os dias de hoje. Mais velado, com certeza. Porém, tão ácido e corrosivo como sempre foi. Maldito pré-conceito.
Coberto pelo véu da moral, a discriminação pela orientação sexual e identidade de gênero sempre existiu. Quando lembro da minha infância, no Ensino Fundamental, não me faltam lembranças das brincadeiras de caráter duvidoso que a criançada aprontava com os coleguinhas que não se encaixavam no “padrão natural”.
Hoje, quase 30 anos depois, quando penso nessas situações que ocorriam, sob validação de grande parte dos adultos, percebo o quão pesado era o fardo para essas crianças que estavam, assim como todas as outras, buscando se encontrar e encontrar o seu lugar em um mundo cheio de novidades.
O tempo passou. Essa mesma criançada cresceu, foi para o mercado de trabalho, assumiu cargos de liderança e começou a estabelecer as regras em diversas empresas. Infelizmente, junto com toda essa capacidade de realizar, vieram, em alguns casos, a simpatia pela exclusão, pelo preconceito e pela falta de empatia em relação ao próximo.
O resultado você pode imaginar. Está estampado e escancarado para quem quiser ler, ver ou escutar.
É claro, se voltarmos no tempo, encontraríamos menos pessoas LGBTQIA+ no ambiente corporativo. Mas não se engane. Isso não quer dizer que havia menos indivíduos pertencentes a esse grupo, mas sim que muitos deles tinham receio em assumir a sua orientação sexual no local de trabalho e, mais do que sofrer retaliações, perder o emprego.
Apesar das recentes conquistas e do aumento da conscientização social em relação ao tema, muitos profissionais LGBTQIA+ ainda enfrentam grandes obstáculos. Quase intransponíveis.
Segundo recentes estudos, de diferentes institutos especializados sobre o assunto, muitas empresas afirmam que não contratariam profissionais deste grupo. Assim como grande parte deste público empregado opta por esconder, de colegas e líderes, a sua orientação sexual. Motivos óbvios que não faltam.
Assim como acontece com o racismo, o preconceito pela orientação sexual também é algo estrutural. Vem de muito tempo. É histórico.
Arrisco dizer que um primeiro passo são as pessoas que não fazem parte desse grupo despertarem para essa diferença, que não existe, e transformarem situações de violência em ações que realmente façam, não só o mercado de trabalho mais diverso e inclusivo, como a vida de todo mundo melhor.
Flávio Benetti é professor, palestrante, publicitário e especialista em Comunicação interna e endomarketing. Considera-se um cara apaixonado pela vida, curioso por natureza, fã de tecnologia, design e fotografia