Peça ao campineiro a indicação de um bar raiz. Ele vai abrir um sorriso e despejar histórias sobre os recantos secretos da Metrópole, aqueles esconderijos da baixa gastronomia que só ele conhece. No discurso dele não faltará também uma citação à tradição, que nesse caso tem nome e sobrenome: City Bar. Faz dois meses que aquela esquina da Avenida Júlio de Mesquita com Rua General Osório anda vazia. Boateiros até anunciaram o fim da história de 61 anos do lugar. José dos Santos Antônio, o Zé, dono do pedaço, ri alto do desaforo, e depois avisa: o City Bar está voltando.
“Sei o tamanho e o peso do nome que o City Bar tem”, diz José dos Santos Antônio
Foi justamente para continuar existindo que o City Bar “saiu de férias”. Forçadas, claro, pela pandemia e a crise econômica que surgiu junto com as restrições impostas para conter a disseminação do coronavírus. Mas dias melhores e mais movimentados virão, garante Zé. “Tive de baixar as portas para que o prejuízo não aumentasse ainda mais, mas todas as contas do City Bar estão em dia. O aluguel, a água, a luz, até o imposto para uso da calçada continuo pagando. Meus 30 funcionários estão recebendo salários. Só não é a hora ainda de abrir”, assegura.
“Funcionar com 25% da capacidade, nesse horário reduzido, só vai aumentar a conta do prejuízo”, afirma José dos Santos Antônio
E quando o City Bar encherá novamente a calçada da famosa esquina do Cambuí? Zé não pode dizer quando, mas sim em que circunstâncias. “Eu garanto que assim que as regras do governo do estado mudarem, o City Bar volta a abrir. Funcionar com 25% da capacidade, nesse horário reduzido, só vai aumentar a conta do prejuízo. Preciso de pelo menos 50% da capacidade de público liberada e da ampliação do horário para abrir novamente”, garante.
A praia de quem não vê o mar batendo à porta tem mesinhas na calçada, tira-gostos, cerveja gelada, um garçom amigo e uma boa conversa. Tudo o que o City Bar proporciona ao campineiro há 61 anos. Trinta desses anos foram vividos sob a administração de José dos Santos Antônio, que sabe exatamente o peso da responsabilidade que carrega. “O City Bar é história, é Campinas, é tradição. Tivemos de tomar essas medidas de baixar as portas justamente para que essa nossa história continue por mais tempo. Eu sou o único dono de lá e sou eu que estou dizendo: ‘O City vai voltar’”, reforça.
Desde que a pandemia começou, em março do ano passado, o City Bar saiu momentaneamente de cena em duas oportunidades. E em ambas surgiram boatos de que o estabelecimento encerraria suas atividades. Foram sete meses sem funcionar em 2020 e agora já se vão dois meses em 2021. “Estou cansado de ouvir as pessoas falando que o City Bar fechou. Eu administro o negócio e sei o que devo fazer para mantê-lo com saúde”, assegura o proprietário.
O irmão caçula do bar, o City Tortas, também na Avenida Júlio de Mesquita, não recebe público há 14 meses, porém, está a todo vapor. Pela janela do estabelecimento continuam saindo tortas, bolinhos de bacalhau, salgados fritos na hora, lanches boca-de-anjo e pratos mais requintados. Tudo delivery ou drive-thru. No cardápio tem muitas opções que ajudam a matar a saudade do irmão mais velho City Bar. Só não dá para sentar na calçada e jogar conversa fora.