A cantora e compositora Marília Mendonça, nascida na cidade de Cristianópolis (GO) e criada em Goiânia, deixou importantes legados em sua trajetória. Sua morte na última sexta-feira (5) chocou os fãs em todo o mundo. Ela morreu quando se deslocava de avião para a cidade de Caratinga (MG), onde faria um show à noite. Todas as outras quatro pessoas que estavam no avião com a artista também morreram na hora.
Além da voz poderosa, do talento para compor e do jeito simpático de lidar com a fama e o universo competitivo da música, a cantora marcou posição em importantes debates sociais: rejeição ao machismo, empoderamento das mulheres e enfrentamento da gordofobia estão entre eles. Marília Mendonça era a rainha da sofrência, com letras que evocavam os relacionamentos femininos, mas que não colocavam a mulher em posição submissa. Ao contrário, dava a ela voz e protagonismo. Era o que se convencionou classificar em ambientes corporativos como “espaços de fala”.
Marília também deu “um nó” nas cabeças da intelectualidade que sistematicamente, mesmo após a sua morte, insistiram em diminuir a sua grandeza ou mesmo ridicularizar o seu sucesso. Era como se a sua música, entendida como brega, não tivesse valor ou capacidade para atingir mentes e corações.
Para além de qualquer análise de qualidade ou gosto musical, o que se pode depreender de sua trágica morte e de sua curta carreira é que Marília construiu um “espaço de fala” quebrando paradigmas e estereótipos. As mensagens de carinho pós-morte não vieram só do mundo sertanejo, mas também de artistas consagrados, que fizeram questão de exaltar a sua história, como Gal Gosta, Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre outros.
Gordofobia
A cantora estrelou e ganhou fama de forma muito rápida. Quando chegou ao estrelato, foi obrigada a encarar os comentários maldosos sobre o seu peso. Depoimentos de amigos indicavam que, apesar da mágoa, Marília seguiu em frente, cuidou mais da saúde e passou a tratar o tema com mais beleza e bom humor. Seu último vídeo antes da morte passa pela alimentação saudável, mas ela brinca que estava de olho nos “quitutes mineiros”.
Ao não se curvar “às exigências das medidas perfeitas” e ao encarar com força e voz os ambientes massivamente masculinos, Marília foi também construindo um pilar associado à música, a da mulher que encarava os seus desafios, com posicionamento e sem vitimismo.
O que fica de seu legado era que Marília Mendonça era mesmo maior que a sua música.
A carreira
Marília Mendonça teve seu primeiro contato com a música por meio da igreja e começou a compor aos 12 anos, passando a compor canções para vários cantores. Se tornou procurada pelo meio, com várias composições para os principais destaques da música sertaneja, como “Minha Herança” (gravada por João Neto & Frederico), “Muito Gelo, Pouco Whisky” (Wesley Safadão), “Até Você Voltar, Cuida Bem Dela, Flor e o Beija-Flor” (Henrique & Juliano), “Ser Humano ou um Anjo” (Matheus & Kauan), “Calma “(Jorge & Mateus) e “É Com Ela Que Eu Estou” (Cristiano Araújo). Outros artistas também gravaram suas canções, como Luccas Luco, Maiara e Maraísa, Matheus e Kauan, César Menotti e Fabiano.
Foi só em 2015, aos 20 anos, que Marília decidiu seguir a carreira de cantora. Ela começou participando das músicas “A Flor e o Beija-Flor” e “Impasse”, ambas da dupla sertaneja Henrique e Juliano. Já no ano seguinte, lançou seu primeiro álbum: “Marília Mendonça: Ao Vivo”. Não demorou muito para que algumas músicas figurassem entre as mais tocadas do País, como “Sentimento Louco e Infiel”.
Naquele ano, a música “Infiel” se tornou a quinta canção mais executada nas rádios brasileiras. Com o reconhecimento nacional, Marília lançou um novo álbum acústico, intitulado “Agora É Que São Elas”, com faixas antigas e o single inédito “Eu Sei de Cor”.
O sucesso foi meteórico, principalmente por cantar músicas que falam de amor, traição e dor de cotovelo. Não demorou muito para a cantora ser coroada a “Rainha da Sofrência”, referência direta ao tom dramático de suas músicas. A artista logo se tornou uma das mais requisitadas para shows e festas em todo o Brasil.
De acordo com o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), a música “Até Você Voltar”, em parceria com Juliano Tchula, foi a canção de autoria de Marília mais tocada nos últimos 10 anos nos principais segmentos de execução pública de música.
No banco de dados do órgão, há, ao todo, 324 músicas e 391 gravações suas e de parceiros cadastradas. “Com sua percepção aguçada e letras que mostravam o sentimento de muitos brasileiros, Marília foi uma artista essencial para o sertanejo e fará muita falta na música brasileira”, destacou o Ecad.
Com a abertura para shows após mais de um ano da pandemia de Covid-19, a artista retomou a turnê em março e estava com a agenda repleta até o final do ano.
Em maio de 2019, a cantora confirmou que estava se relacionando há cinco meses com o também cantor sertanejo Murilo Huff. Meses depois, ela anunciou que estava grávida do primeiro filho com o cantor. Léo nasceu no dia 16 de dezembro de 2019.
O primeiro e único show que Marília fez em Campinas foi no Royal Palm Plaza, no dia 23 de outubro último.
(Com Agência Brasil)