Durante as últimas semanas, os sites de notícias publicaram diferentes matérias falando sobre o retorno presencial ao trabalho. Era para ser algo simples. Mas percebeu-se que o movimento era muito mais complexo. Talvez, até mais conturbado do que quando migramos, forçadamente, para o home office.
Desde então as empresas perceberam e intensificaram as ações voltadas para o bem-estar mental dos profissionais. Depois de um tempo rodando um modelo mais “basicão”, com programas pontuais e, quiçá, algumas sessões de terapia, a volta das pessoas para os ambientes corporativos acendeu um sinal de alerta impossível de ser ignorado.
Sem saber os desafios que encontrarão e as incertezas em relação ao futuro, os profissionais estão entrando num espiral de auto-degradação. Física e mental.
Prova disso são os resultados de uma pesquisa – realizada pela Universidade de São Paulo em 11 países sobre os impactos da Covid-19 nos índices de ansiedade e depressão das pessoas – que colocaram o Brasil na liderança do ranking.
Com esta realidade nada confortável, as empresas perceberam que é preciso muito mais do que algumas simples ações voltadas à saúde mental dos seus empregados. É necessário algo mais abrangente. Sustentabilidade emocional.
Assim como na sustentabilidade ambiental, onde todos os seres vivem de forma harmônica com os recursos disponíveis, na saúde mental é necessário achar um ponto de equilíbrio entre o que podemos oferecer e o que o ambiente exige de nós.
O conceito é amplo, passa por diversos aspectos da vida social, não apenas quando falamos sobre a nossa relação com o trabalho.
Talvez, uma das principais questões é a tal da produtividade. Romantizada pelo sistema e idolatrada por muitos empreendedores.
Nos tornamos máquinas de realizar. Não existe hora vaga. Precisamos ocupar todo o tempo com atividades que definem a nossa representação social. Trabalhamos. Cuidamos da casa. Escutamos podcasts. Lemos livros.
Navegamos nas redes sociais. Postamos. Tudo é feito para representar o nosso nível cultural. Muitas vezes fazemos coisas não porque gostamos ou nos interessamos, mas sim porque são deveres. Talvez, impostos.
A jornalista Izabella Camargo, em seu livro “Dá um tempo: como encontrar limites num mundo sem limites”, defende a ideia de uma produtividade sustentável – que é a capacidade de trabalhar sem causar danos à saúde e aos relacionamentos.
Por isso, a sustentabilidade emocional extrapola as fronteiras do cuidado pontual com a saúde mental. É um ecossistema muito mais complexo que as empresas terão que mostrar aos empregados que deve, sim, existir vida além do trabalho.
Flávio Benetti é professor, palestrante, publicitário e especialista em Comunicação interna e endomarketing. Considera-se um cara apaixonado pela vida, curioso por natureza, fã de tecnologia, design e fotografia