Icônico, eclético e todo pichado. Essas eram algumas das observações mais frequentes feitas pelas pessoas que passavam na região do Largo do Rosário, a respeito do imóvel que abriga o Eden Bar, no número 1.218 da Rua Barão de Jaguara, em Campinas. Nesta semana, os andaimes que cobriam a fachada centenária foram retirados e revelaram a arquitetura particular e renovada da edificação. À noite, a iluminação evidencia a transformação. Vale parar um instante para redescobrir a construção histórica.
Para a proprietária do restaurante que acabou por dar nome ao prédio, a revitalização significa também “renascimento”, sobretudo por ocorrer em uma época condenada às más notícias pela pandemia da Covid-19. “Meu sentimento é de gratidão, de orgulho, principalmente porque essa reforma ocorreu em um momento significativo, quando atravessamos tempos tão difíceis e de tantas perdas. Para mim essa obra tem também o sentido de ressignificação”, detalha Tatiana Sakai, dona do Eden Bar.
O trabalho de conservação e manutenção do imóvel está quase concluído. Leonardo Andrew, engenheiro responsável, calcula que tudo estará encerrado até o próximo sábado (20), quando a marquise de metal que decora a fachada no prédio de dois andares será reinstalada. “A marquise foi enviada para manutenção e restauro de algumas partes que estavam comprometidas. Também falta colocar alguns pontos de iluminação no térreo para finalizar todo o projeto”, detalha.
Andrew trabalha na recuperação do lugar há cerca de seis meses. Conta que um dos maiores desafios foi a logística de operação em um dos pontos mais movimentados de Campinas, que possui também grande fluxo de pedestres. “Instalar andaimes adequados, trabalhar, descarregar e carregar material foram tarefas difíceis, mas pelo resultado final, compensou e muito”.
Se está bonito por fora, também está seguro por dentro. Foram realizadas obras na rede elétrica, instaladas câmaras nos dois pavimentos superiores, que abrigam salas comerciais, e concluídos reparos no telhado e na hidráulica. Os últimos seis meses foram intensos, porém, o trabalho teve início antes ainda da pandemia chegar.
A arquiteta Maria Silvia Abrucezze foi procurada pelos proprietários do prédio – que preferem não se identificar – há cerca de dois anos. A missão dada a ela foi de cuidar de todos os detalhes para que a manutenção devolvesse à construção suas características originais, alteradas ao longo de um século de existência. Por ser uma edificação tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), o processo exigiu detalhamento de intervenções e regras.
“Foi uma etapa longa, em que os proprietários se envolveram para ajudar a devolver ao prédio as formas originais. Como o local esteve sempre com a família, fizeram o levantamento das cores, da fachada, para que tudo fosse preservado dentro das possibilidades técnicas. O próximo passo foi a aprovação pelo Condepacc para então dar início aos trabalhos”, detalha Maria Silvia.
A arquiteta criou maquetes e cuidou do minucioso projeto. “Fizemos estudos de cada moldura, de como reproduzi-las ou recuperá-las, caso fosse preciso, porque se trata de um prédio histórico, de grande significado para Campinas. Esses quase dois anos de envolvimento com certeza valeram a pena, porque trazem um resultado final de grande valor para a cidade”, confirma Maria Silvia.
Patrimônio
A arquiteta e urbanista Sandra Watson, coordenadora da Coordenadoria Departamental do Patrimônio Cultural de Campinas, reforça o aspecto do quanto é importante ver um edifício histórico ressurgir no momento difícil como o que vivemos. “Impacta positivamente não apenas no contexto da região histórica, mas também na vida das pessoas que passam por ali e terão algo bonito para contemplar”.
Oficialmente inaugurado em 1925, o prédio do Eden Bar é uma mistura de estilos resultante da influência italiana naquela região. “A Rua Barão de Jaguara era uma referência de elegância no início do século passado. Bons comércios, bons restaurantes. O volume, a simetria das torres, confirmam a influência da arquitetura italiana como inspiração”.
O prédio, conta, foi tombado dentro do conjunto edificado dos imóveis do entorno do Largo do Rosário, em 2015. São mais de dez construções históricas na região, como o Solar do Visconde de Indaiatuba, que fica na esquina das ruas Barão de Jaguara e General Osório, e o imóvel que abriga o Giovanetti, na General Osório. “Essa região oferece uma variedade de estilos que contam diferentes momentos da nossa história. A maioria dos imóveis está bem conservada. O passeio por ali possibilita uma leitura de época sobre a formação daquela área da cidade”, explica. “Intervenções como essa do prédio do Eden Bar são exemplos de cuidado com a memória de Campinas.”