Se alguém pode sair legalmente da cadeia por períodos de uma semana, por que está preso? Será que de vez em quando deixa de ser perigoso? Se um sujeito está preso, exatamente em nome da segurança pública, por que pode ser solto quatro vezes ao ano?
Tudo ocorre rigorosamente de acordo com a lei. Mas parece estranho, muito estranho, que esta lei continue em vigor. A “saidinha” que começou no dia 14 e terminou no dia 20, em São Paulo, beneficiou pouco mais de 37 mil presos. Todos deveriam voltar voluntariamente à prisão até as seis da tarde do dia 20. Uns 1.500 não voltaram e estão foragidos. Ou seja, a Polícia tem de procurá-los e trazê-los de volta – além, claro, de buscar os condenados que foram condenados à prisão. Entre os prisioneiros beneficiados pela “saidinha”, há um condenado por estupro e tráfico de drogas.
Novidade? Não: na última “saidinha”, em junho, foram contemplados pouco mais de 30 mil presos. E mais de 900 resolveram procurar novos ares. Estão foragidos, pondo em risco a segurança da população (de que vão viver, se estando foragidos não têm como conseguir emprego?) e sobrecarregando a Polícia, que além de suas atividades normais tem de procurá-los – o que é também perigoso, pois demonstraram que não querem voltar à prisão.
A antiga anedota sobre o filho que matou o pai e a mãe para ir ao Baile de Órfãos deixou de ser anedota. Pela lei brasileira, virou direito do preso.
A lei e o fato
A lei estabelece alguns limites para que o condenado receba o benefício. Entre eles, quem cometeu crime hediondo que culminou em morte não pode recebê-lo. Mas a lei, ao que parece, permite interpretações. E condenados pela morte de seus pais ou filhos têm obtido o direito de sair. Aqui é Brasil.
A caminho do futuro
Há pouco mais de um ano, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, apresentou a maquete eletrônica de uma rodovia magnífica, que ligaria o Amazonas a Rondônia, e acrescentou a frase: “Imagens do futuro para vocês”. Freitas entende de estradas (até dirigiu o DNIT, que cuida da infraestrutura de Transportes, no Governo Dilma) e tinha razão: a rodovia BR-319 rachou ao meio, na separação das pistas, virou um buracão e teve de ser interditada. O procurador Marinus Marsico anunciou que pedirá a perícia da rachadinha rodoviária, para saber se houve erro de projeto, se não foram seguidos os requisitos técnicos de compactação e drenagem, ou ambos.
Fala, presidente!
De Bolsonaro, sobre a pandemia: “A Covid apenas encurta algumas vidas”. Pois é: tomar veneno contribui também para encurtar algumas vidas.
Manso
Vale a pena ler a entrevista do presidente Bolsonaro à Veja que está agora as bancas. Ele apresenta seu lado manso: reconhece que foi longe demais em seus discursos durante as manifestações de 7 de setembro, jura que nem pensa em cumprir a ameaça de melar as eleições, garante que seu objetivo, ao assinar a carta preparada pelo ex-presidente Michel Temer, era “acalmar tudo”; e que (bomba, bomba!) o general Mourão não deverá ser seu vice, mas se candidatar a algum Governo estadual ou ao Senado.
Bravo
Mas, um dia depois de mostrar seu lado manso, Bolsonaro voltou a dar cabeçadas no ministro Barroso, do Supremo Tribunal Federal. Como reagirá Bolsonaro à possível derrota de seu candidato ao STF, o “terrivelmente evangélico” André Mendonça? Manso ou bravo? Talvez bravo, já que líderes evangélicos têm comentado que ele não articulou com empenho a candidatura de Mendonça.
Sem fantasia
O senador Renan Calheiros, presidente da CPI da Covid e oposicionista, trocou insultos com o senador Jorginho Mello, bolsonarista (uma dúvida: dá para dizer que ambos trocaram insultos, quando ambos, na opinião deste colunista, tinham motivos para dizer o que disseram?) e chegaram perto de partir para a pancada.
Mas não se impressione: é jogo de cena. Os seguranças estão ali para evitar que isso aconteça, e não vai acontecer. Mas os dois foram brilhantes: deram a impressão de que iriam mesmo trocar socos e chutes.
Relembrando
Aliás, os senadores sempre brigaram mal. Nos tempos do avião a lenha, o senador Silvestre Péricles disse que, se seu adversário Arnon de Mello se atrevesse a discursar em determinado dia, ele o mataria a tiros. E foi armado ao Senado (na época, podia). Arnon de Mello também foi armado. Quando achou que Silvestre Péricles iria atirar, sacou o revólver e atirou primeiro. Mas errou o alvo: atingiu e matou o senador José Kairalla, que não tinha nada a ver com o caso. Mas, já naquela época, havia o jeitinho: nem Silvestre Péricles foi punido por ameaçar Arnon, nem Arnon por matar um senador.