O medo de confronto entre grupos antagonistas levou a Polícia Militar de Campinas a adotar neste 7 de Setembro de 2021 o mesmo esquema de segurança aplicado para controlar as torcidas de futebol. A providência está definida na ata da reunião feita pela promotora Aline Moraes com organizadores dos atos, ocorrida no dia 2 de setembro. Os dois grupos de manifestantes vão se reunir no Centro da cidade, a partir das 9h desta terça (7).
“Vale ressaltar que a Polícia Militar informou que haverá uma área de segurança e, diante da animosidade existente no País, o que reflete na cidade, será utilizado o mesmo formato de segurança para dias de jogos de futebol”, informou a promotora.
O grupo pró-Bolsonaro – que se chamou de “Movimento Avante Brasil” – vai ficar no Largo do Rosário. Já o grupo de esquerda – denominado “Grito dos Excluídos” – deverá se limitar ao Largo do Pará. A distância entre os dois espaços é de apenas cinco quadras e a expectativa é que os dois atos reúnam ao menos 10 mil pessoas.
De acordo com o esquema, o trecho entre as ruas Ferreira Penteado e Cônego Cipião deverá compor uma espécie de cinturão – onde nenhum dos integrantes dos grupos poderá circular. Haverá interdições ainda na própria Glicério e em ruas próximas aos dois eventos (veja abaixo)
“De fato vai ser um 7 de setembro diferente dos outros. Existe uma preocupação grande com a segurança”, disse o subcomandante da Guarda Municipal (GM), Jaderson Gama. Segundo ele, haverá aumento no efetivo (diz que não pode revelar quantos serão); circulação maior de veículos nos corredores de ônibus e nos terminais de passageiros, e um monitoramento mais rigoroso das redes sociais para identificar indícios de conflitos.
O Padre Benedito Ferraro conta que há 26 anos comanda o Grito dos Excluídos, disse que jamais sentiu a possibilidade de risco tão grande.
“Nesses 26 anos – este ano será o 27º – tivemos momentos muito tensos. Principalmente nos anos em que havia eleições. Mas esse ano está diferente. Hoje, as manifestações são mais agressivas”, relata o padre.
Ferraro garante que não há disposição para o confronto. “Nós nunca, em todos esses anos de luta, promovemos a violência. E não será agora que faremos. Se vier (violência) será do outro lado”, disse.
O Hora Campinas tentou contato com representantes do Movimento Avante Brasil, mas não recebeu retorno até o fechamento desta matéria.
Pela primeira vez em quase três décadas, o Grito dos Excluídos não será encerrado com uma passeata – que acontecia sempre depois do desfile cívico-militar na Glicério. Para evitar o confronto, a passeata foi suprimida da programação e o grupo estará confinado ao Largo do Pará.
“Sem dúvida é um caldeirão, com grandes chances de dar muito errado. Nossa maior preocupação hoje é com a integridade física das pessoas”, disse o professor do Centro de Linguagem e Comunicação da PUC Campinas, Victor Corte Real.
O professor avalia que o risco de episódios de violência é presente e bastante evidente por conta do chamamento feito para essas manifestações. Ele lembra que o próprio presidente fez convocações, mas ressalta que os movimentos de esquerda também.
O esquema
A PM diz que haverá patrulhamento em viaturas; policiamento a pé, policiamento com motos, além de mobilização de grupos da Força Tática, da Base Comunitária Móvel e apoio de policiais do Baep – 1º Batalhão de Ações Especiais da Polícia Militar. Além disso, haverá monitoramento por drones, que identificarão imediatamente, os locais onde eventualmente houver tumulto.
A Secretaria de Transportes e a Emdec – a empresa municipal que disciplina o sistema de trânsito na cidade – vão realizar uma operação especial de trânsito, na região central do município no feriado. A ação acontecerá no período das 8h até as 14h, seguindo orientações da Polícia Militar (PM).
A Avenida Francisco Glicério terá bloqueio total no trecho entre a Avenida Dr. Moraes Salles e a Avenida Aquidaban. Também haverá bloqueios parciais no entorno do Largo do Rosário e do Largo do Pará.
Outros pontos de bloqueio no Centro serão os cruzamentos: Rua Duque de Caxias x Rua Dr. Quirino; Rua Barão de Jaguara x Avenida Aquidaban; e Rua Cônego Cipião x Rua Regente Feijó.
No Estado
As forças de segurança do Estado de São Paulo terão um esquema especial de policiamento para acompanhar as manifestações previstas para esta terça-feira (7), na Avenida Paulista e no Vale do Anhangabaú, na capital paulista.
O efetivo será de aproximadamente 3,6 mil policiais e terá o apoio de 1.473 viaturas, 60 cavalos, quatro drones e dois helicópteros da Polícia Militar (PM).
Participarão da operação equipes dos Comandos de Policiamento da Capital (CPC), de Trânsito (CPTran), de Choque (CPChq) e do Corpo de Bombeiros (CCB).
As manifestações também serão monitoradas por meio de câmeras fixas, móveis, motolink (câmeras instaladas em motocicletas) e bodycams (câmeras instaladas no fardamento dos policiais). As imagens serão acompanhadas ao vivo no Centro de Operações da PM (Copom).
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), a finalidade da operação é “proteger as pessoas, preservar patrimônios e garantir o direito de ir e vir, bem como o de livre participação nos atos e a fluidez no trânsito”.
Revista pessoal e de mochilas
De acordo com a SSP, a polícia fará revistas pessoais e de mochilas dos participantes das manifestações. Entre os itens que não poderão ser levados estão armas brancas e de fogo, bastões, fogos de artifício, sinalizadores e drones. Quem estiver na posse destes materiais será conduzido à delegacia para o registro de um termo circunstanciado.
A polícia também vai fazer uma vistoria prévia e um cadastro dos carros de som que farão parte das manifestações. O ato na Avenida Paulista se concentrará no perímetro que compreende a Avenida Brigadeiro Luís Antônio e a Praça dos Ciclistas, das 11h às 18h. O ato no Vale do Anhangabaú ocorrerá das 14h às 17h.