Amigos e gente da família do fotógrafo Maurílio Clareto, o Lilo, têm vivido momentos angustiantes. Mineiro de Passos que iniciou a carreira no fotojornalismo em Campinas, no extinto jornal Diário do Povo, Lilo está intubado, afetado de forma grave pelo vírus da Covid-19. Mas a luta que trava pela sobrevivência revela não apenas a fragilidade do sistema público de saúde no Brasil. Faz surgir também comoventes manifestações de solidariedade e amor ao próximo.
Desde que foi internado pela primeira vez, na noite do dia 16 de março em um hospital público em Altamira, no Pará, uma rede de cuidados e auxílio se formou a partir da jornalista Eliane Brum – com quem Lilo mantém uma parceria de duas décadas. Chamada de “Respira Lilo!”, a corrente de cuidados tem garantido a sobrevida ao fotógrafo.
“Lilo Clareto possivelmente se contaminou ao documentar o ecocídio e a crise humanitária provocadas por (usina hidrelétrica) Belo Monte na Volta Grande do Xingu, na Amazônia”, escreveu Eliane na campanha que criou nas redes sociais em favor de Lilo.
“Em casa, transmitiu o vírus para sua mulher, Daniela. Entregaram a pequena Maria, de 2 anos, para a avó, para que ela não se infectasse, e se trancaram mais uma vez”, continua a jornalista no relato publicado na rede social.
Ela conta que Lilo não previu a gravidade da doença. Diz que achou que seria leve, sem maiores complicações. Mas não foi isso que ocorreu. Ele começou a se sentir mal e procurou o Hospital Regional Público da Transamazônica, em Altamira, onde acabou internado.
“Deparou-se então com as dificuldades de um jornalista, um repórter fotográfico no Brasil de direitos tão precários. Freelance, nunca pôde pagar um plano de saúde. Freelance não tem o apoio de nenhum empregador quando se contamina trabalhando. Lilo é um usuário do SUS, sistema pelo qual sempre lutou. E o SUS, apesar de todas as dificuldades desse momento de falência vivido pelo Brasil, o acolheu”, escreveu a colega.
Mas Lilo precisava de mais. Já na UTI, necessitava de um intensivista – profissional raro na região. A rede de apoio, então, se mobilizou em busca de recursos para pagar o atendimento individualizado, além de medicamentos. Lilo permaneceu internado na UTI no hospital em Altamira, até o dia 21 de março. “Nesta data, a fila para uma vaga na UTI tinha 17 pessoas, sinais do colapso vivido por todo o Brasil e especialmente pela Amazônia”, lembrou Elaine.
A situação de Lilo se agravou. Ele precisava de uma UTI com mais recursos e Eliane voltou a pedir ajuda dos amigos. “Conseguimos juntar em um dia 28 mil reais. Ainda faltam 12 mil para completar os 40 mil do tratamento de ponta e temos ainda um gasto diário constante de mil reais (intensivista, fisioterapeuta de pulmão e eventuais medicamentos e exames que precisamos pagar na rede particular para aumentar a agilidade)”, relatou ela.
O estado dele, no entanto, não apresentava evolução e o esforço seguinte foi pela transferência de Lilo para São Paulo. Foi levado num avião fretado e hoje está internado no Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Elaine lembra que Lilo só conseguiu fazer esse movimento porque amigos de todo o Brasil se uniram numa rede de ajuda. “Por esse esforço coletivo, intenso e incansável, conseguimos contratar um profissional que acompanhava o caso por telemedicina e também uma médica intensivista que viajou de São Paulo até Altamira para acompanhá-lo. Complementamos exames e medicamentos. E conseguimos bancar a transferência para São Paulo em avião fretado. Agora, porém, o dinheiro acabou”, continua ela.
Galeria Solidária
Familiares contaram ao Hora Campinas que Lilo segue intubado. Em estado grave. E por conta disso, a campanha continua. Eles criaram o que chamaram de “Galeria Solidária” – com algumas das fotos feitas por Lilo ao longo dos anos e que poderão ser compradas. O dinheiro arrecadado será destinado ao pagamento dos custos do tratamento.
“O objetivo é ajudar no tratamento do fotógrafo Lilo Clareto, mas, com certeza, quem adquirir essas fotos, se tornará proprietário de uma bela obra de criação”, diz a publicitária e jornalista Inês Costa, irmã de Lilo Clareto.
“Lilo tem o que chamamos de ‘olhos da alma’, ele enxerga além da imagem. O seu click gera mais que uma fotografia, gera uma, dor, uma alegria, uma emoção. Seu trabalho fala por si só, é intenso, causa os mais variados sentimentos, mas nunca a indiferença”, diz a jornalista Marilucia Caramalac, amiga de Lilo há 38 anos e que também está engajada na campanha, em Campinas.
“Como pessoa, Lilo é tão intenso quanto suas fotos. Um ser humano preocupado com o sofrimento alheio, com a miséria de seu País, com as desigualdades. Ele se doa por inteiro. Não há meio Lilo. Já rimos e choramos juntos, já concordamos e discordamos. Mas, o fio que nos une é o mesmo, desde sempre: o inconformismo com as injustiças sociais. Por isso a minha dor, hoje, ao vê-lo na situação em que se encontra”, finaliza ela.
Cada foto pode ser adquirida pelo valor de R$ 220,00, e podem ser visualizadas e escolhidas no Instagram @galeriasolidariadefotografia. O interessado em comprar fotos deve mandar um e-mail para [email protected] indicando as imagens escolhidas.
O interessado recebe uma cópia em jato de tinta, papel 100% algodão Hahnemühle Photo Rag, 308g, no tamanho 20x20cm, carimbada em alto relevo com a marca d’água da 20 X 20 Galeria Solidária de Fotografia (https://www.instagram.com/galeriasolidariadefotografia).
Há também uma vaquinha virtual (http://vaka.me/1926023) Respira, Lilo! O ID da vaquinha é 1926023. O pagamento por meio do site pode ser feito via boleto, cartão de crédito ou PIX. É possível contribuir com qualquer valor.
ATUALIZAÇÃO
Lilo Clareto morreu no dia 21 de abril de 2021, uma quarta-feira, em consequência da Covid. Ele foi diagnosticado com a doença no dia 4 de março e internado no dia 16 daquele mês.