No último ano do meu Ensino Fundamental, na década de 90, em meio às descobertas de uma nova fase da vida, amizades, brincadeiras, formatura, despedidas, viagem com toda a turma e uma avalanche de dúvidas sobre diversos aspectos, havia algo que preocupava todos: qual profissão seguir?
Eu, particularmente, tinha uma afinidade muito grande com tudo que estava ligado à criatividade. Tanto que segui minha carreira como publicitário.
Naquela época, “ser criativo” te credenciava, única e exclusivamente, para as formações das ciências humanas. Exatas e biológicas, nem pensar!
Pois bem. Depois de quase três décadas, “ser criativo” se tornou algo básico para qualquer profissão. Basta olhar o perfil das vagas disponíveis, independente da função. Afinal, inventividade, inteligência e talento – natos ou adquiridos – para criar, inventar e inovar são bons em qualquer lugar. Concorda?
Ao contrário do que se imagina, nascemos não apenas com a capacidade de sermos criativos, mas também com a necessidade – a gente precisa, muito, se expressar. Para isso, as únicas decisões a serem tomadas são “o que queremos dizer ao mundo” e “de que forma” – como descreve Will Gompertz, editor de artes da BBC.
Seja criando um novo negócio ou um novo serviço, desenvolvendo um aplicativo, ensinando sobre determinado assunto ou fazendo uma escultura, a decisão é intuitiva, baseada naquilo que, de alguma forma, nos atrai e inspira. A partir deste ponto, é questão de trabalho. Muito trabalho.
Quando olhamos o mercado e a maioria das empresas, vemos que incentivar a criatividade é objetivo prioritário.
A colaboração entre pessoas, que nem sempre pensam da mesma forma, pode levar a novas descobertas. Sendo assim, as instituições precisam ser mais colaborativas do que hierárquicas.
Um imenso caminho ainda precisa ser percorrido.
São poucos os casos de empresas que estimulam a inventividade de seus funcionários. Não são apenas ferramentas, demandam-se condições. Ou seja, oportunidade e confiança para que as pessoas expressem seus talentos. Nos dias de hoje, a relação entre empregado e empregador é uma experiência pouco propícia à criatividade. Acredite.
Por outro lado, é preciso que as pessoas mudem o ponto de vista: trabalhar com as empresas, não para as empresas. Sútil diferença. Ao invés de áreas, grupos multidisciplinares de funcionários – com autonomia e independência, norteados por desafios.
A vantagem é para todos: profissionais altamente motivados, criativos, flexíveis e donos de suas carreiras e, claro, de seus destinos.
Para as empresas, o desafio eminente é estruturar um ecossistema de apoio para que essas pessoas desempenhem suas funções livres de burocracias que também dificultam o ato de ser criativo.
Uma postura diferente, mais colaborativa, de empresas e profissionais, onde todos possam se expressar, participar e contribuir com seus talentos únicos – são primordiais para uma sociedade mais conectada e menor hierárquica.
Afinal, como dizia minha professora de artes, citando Auguste Rodin, em uma das últimas aulas do meu Ensino Fundamental, “o importante é se emocionar, amar, ter esperança, vibrar e viver”. De resto, a gente toca o barco!
Flávio Benetti é professor, palestrante, publicitário e especialista em Comunicação interna e endomarketing. Considera-se um cara apaixonado pela vida, curioso por natureza, fã de tecnologia, design e fotografia