Jovem mobilizou a comunidade Chico Amaral para construir uma biblioteca comunitária. O espaço tem ajudado a democratizar o acesso à leitura e à cultura
‘Era uma vez’ uma garota que descobriu na contação de histórias e na leitura dos livros o poder de transformar a sua realidade e também a da comunidade em que está inserida. Desse encantamento pelas palavras escritas e faladas, nasceu a primeira biblioteca da comunidade Chico Amaral, em Campinas. O espaço que já está pronto e foi idealizado por Majori Nascimento da Silva, 21 anos, e construído com a colaboração de muitas mãos, entre elas, dos amigos, dos vizinhos e de toda a família que embarcaram junto no sonho dessa jovem.
A ajuda para erguer a biblioteca comunitária foi chegando de muitos lados: teve gente que levou os tijolos que estavam sobrando em suas casas, outros chegaram com o resto de cimento, areia ou pedra.
Aos poucos foram surgindo doações de janela, porta, portão e o espaço foi ganhando vida. As paredes foram ganhando cor das inúmeras doações dos restos de tintas das casas da vizinhança.
Majori conta que foi bonito ver tanta gente colocando a mão na massa, cooperando e juntando força para construir algo que agora pertence a todos.
Bem antes da biblioteca se concretizar Majori lembra que, desde que era bem novinha, adorava ouvir as histórias que seu pai contava. Os contos que ele narrava não eram tirados de livros (pois não existiam muitos na casa deles), mas nasciam da imaginação e da vivência dele e sempre tinham grandes ensinamentos. Tanto que quando ela pedia para o pai recontar determinada história sempre vinha com uma nova roupagem, novos elementos e até um novo final.
Mas eram histórias que faziam os olhinhos curiosos da garota brilhar e passavam a habitar sua imaginação.
Logo que entrou para a vida escolar e aprendeu a ler, a menina começou a devorar os livros da biblioteca da escola. Mas ao mesmo tempo que as palavras e as histórias ganhavam o seu coração, ela ficava triste ao perceber que nem todas as pessoas tinham a mesma oportunidade ou acesso para ter esse grande encontro com as histórias.
Majori conta que nunca pensou que um dia poderia incentivar a leitura ou fazer alguma ação que pudesse gerar um impacto social. Mas, em 2014, ao entrar para a Academia Educar DPaschoal, que ajuda a despertar o protagonismo juvenil, descobriu que poderia sim contribuir para deixar o mundo melhor. Foi assim que primeiramente nasceu seu projeto de contação de histórias para as escolas públicas. E contando histórias ela acabou conseguindo ter mentores na Universidade de Havard que acreditaram no potencial da garota. Com tamanho incentivo ela resolveu ampliar o sonho e decidiu que faria uma biblioteca comunitária na comunidade Chico Amaral. Mas vale destacar que ela tinha consciência de que não iria conseguir sozinha.
A biblioteca dessa jovem que sonha em cursar ciências sociais ficou pronta, está linda e convidativa. Majori conta que ideia é que, além de ser um espaço para democratizar o acesso à informação e cultura, seja também um local de escuta. “Precisamos dar atenção para as vozes da comunidade, pois juntos somos muito mais fortes”, diz.
Por conta da pandemia do coronavírus alguns projetos ainda não foram implantados, mas por lá haverá espaço de contação de histórias, aulas de reforço escolar de disciplinas como português, matemática, inglês, dentre outras. Majori se orgulha de contar que, no momento, já estão com 20 leitores bem assíduos e que isso deve ser ampliado assim que a pandemia melhorar.
Fica aqui a dica para quem quiser doar livros para a biblioteca comunitária que nasceu do sonho dessa jovem, basta entrar em contato pelo e-mail [email protected].
Kátia Camargo é jornalista e assim que conheceu a história da biblioteca decidiu separar livros que habitam sua casa para morarem na biblioteca comunitária da comunidade Chico Amaral