A vereadora Paolla Miguel (PT) foi vítima de manifestações racistas na sessão da noite desta segunda-feira (8), na Câmara de Campinas. Quando discursava da tribuna pela aprovação de um projeto de promoção da comunidade negra – por conta do mês da Consciência Negra – foi xingada por manifestantes bolsonaristas que se encontravam no plenário portando bandeiras do Brasil e de Israel.
O sistema de transmissão da sessão da TV Câmara captou áudio em que uma voz feminina gritou ao menos duas vezes “sua preta lixo”, dirigindo-se à vereadora, que apesar dos xingamentos, continuou seu pronunciamento até o final.
O presidente da Câmara, vereador José Carlos Silva (PSB), no entanto, pediu imagens dos manifestantes e informou que vai iniciar a investigação de um crime de racismo. “A gente já está em posse das imagens e quem falou isso vai pagar”, prometeu ele.
Técnicos da Câmara avaliam, no entanto, que dá para ouvir os xingamentos, mas consideram difícil identificar a origem, porque o agressor poderia estar com máscara.
“O STF acaba de concluir que esse tipo de crime é imprescritível. Então, aqueles que tratam o crime de racismo como liberdade de expressão, precisam entender que isso é um crime inafiançável”, disse ela. E completou. “Crimes contra a comunidade negra não serão mais tolerados”, avisou.
A vereadora Guida Calixto (PT) foi à tribuna e fez um discurso forte. Disse que repudiava aquele tipo de manifestação e mandou um recado aos manifestantes.
“Quer vocês queiram, quer vocês não queiram, nós mulheres pretas, periféricas, estamos aqui nesta tribuna e vamos falar, sim! Vocês fascistas, racistas, vão ter de nos engolir aqui no plenário”, disse ela. “Querendo vocês ou não, vai ter mulher preta e periférica falando aqui no plenário”, repetiu.
Segundo ela, além de “preta lixo”, os manifestantes se referiram à Paolla Miguel e às vereadoras como “vagabundas”.
O caso
Os manifestantes foram à sessão por conta de um requerimento do vereador Nelson Hossri (PSD), que pedia urgência na votação de um projeto de sua autoria, que previa o fim da exigência do passaporte da vacina. Hossri é contra a exigência e arregimentou um grupo para fazer pressão sobre os vereadores.
Desde o início da sessão, os manifestantes – entre 30 e 40 pessoas, com grande participação de mulheres – faziam coro contra o sistema de imunização. “A vacina mata”, gritavam os manifestantes. “A vacina mata”, repetiam, dezenas de vezes.
Quando Hossri subiu à tribuna para atacar o passaporte foi muito aplaudido, mas quando vereadores se posicionavam contra o requerimento, recebiam vaias e tinham dificuldades para falar, tal o barulho que o grupo produzia.
A vereador Mariana Conti (Psol) disse que os manifestantes tinham sido levados à sessão por Hossri e responsabilizou o colega pelos incidentes. “O Sr. é um demagogo”, declarou ela.
“Vocês estão sofrendo de um surto coletivo, que a princípio pode até gerar pena. Mas não podemos ter pena não, porque se trata de manifestações fascistas”, disse o vereador Gustavo Petta (PCdoB). “Eu estou no meu terceiro mandato e nunca vi um absurdo como esse”, acrescentou o vereador.
Sobre o crime de racismo, Petta fez um alerta. “Eu também requisitei o áudio. Vamos identificar quem fez isso e mandar para a cadeia. Mandar para a cadeia”, reforçou ele.
Irritado com a fala do colega, Hossri partiu para cima de Petta assim que este desceu da tribuna e demonstrou ter a intenção de agredi-lo. Chegou a empurrar Petta, mas foi contido por outros vereadores.
A sessão foi suspensa e só retomada minutos depois, já com os ânimos controlados.
Hossri
O vereador Nelson Hossri garantiu não ter responsabilidade sobre a presença dos manifestantes no plenário. “Claro que não. Apenas apresentei um projeto contra o passaporte sanitário e a população foi. É uma pauta importante”, disse ele. “O passaporte vem tirando a liberdade das pessoas frequentarem espaços públicos”, avalia ele.
O vereador disse não ter visto nenhuma ofensa à vereadora. “Mas se ocorreu tem de prender. Racismo é crime. Sou contra qualquer ato de racismo ou preconceito”, garantiu.
Sobre o conflito com Petta justificou-se. “Ele me agrediu verbalmente e fui tirar satisfação”, disse.