Com uma história vencedora na disputa das Olimpíadas, o vôlei brasileiro conquistou a sua primeira medalha com o time masculino da famosa Geração de Prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. Já a equipe feminina foi medalhista pela primeira vez nas quadras 12 anos depois, em Atlanta, mas isso só foi possível graças a um elenco de atletas talentosas que surgiram anteriormente, não subiram ao pódio na competição, mas fizeram história e abriram portas, dando o empurrão necessário para o crescimento do vôlei no nosso país e auxiliando no surgimento de novas craques.
Nascida em Casa Branca, no interior de São Paulo, Vera Mossa chegou a Campinas com quatro anos e ainda na infância começou a dar os primeiros passos no voleibol.
Aos 15 anos, vestindo a camisa do Guarani, a atleta foi convocada por Ênio Figueiredo para defender a Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980, na primeira disputa das mulheres no esporte que daria tanto orgulho ao país.
“Em 1980, foi uma surpresa ter sido convocada porque eu era muito nova. Eu tinha 15 para 16 anos e ainda era uma jogadora infanto-juvenil. Tinha acabado de disputar o Campeonato Sul-Americano infanto pelo Brasil e não tinha nem passado pelas outras categorias. Mesmo assim, o Ênio Figueiredo me viu jogando um Campeonato Brasileiro de seleções por São Paulo. Ele gostou, achou que eu tinha muito potencial e me convocou”, relembra a ex-jogadora, que é mãe de Bruno Mossa de Rezende, levantador da Seleção Brasileira Masculina de Vôlei, medalhista de prata nos Jogos Olímpicos de 2008 e 2012, medalhista de ouro nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, e porta-bandeira do Brasil, ao lado da judoca Ketleyn Quadros, na abertura das Olimpíadas de Tóquio, na última sexta-feira (23).
“Eu era uma menina e lembro que a viagem para Moscou foi a minha primeira viagem internacional. Nunca tinha saído do Brasil antes e foi muito legal. Nós fomos para as Olimpíadas de última hora após o boicote dos países capitalistas e infelizmente não tivemos muito tempo de nos preparar. Nossa seleção era jovem, mas mesmo assim foi gratificante poder treinar com as minhas companheiras”, completa a atleta, que ajudou a equipe brasileira terminar os Jogos Olímpicos em sétimo lugar.
Rita Teixeira Zanata foi mais uma atleta que representou Campinas na Seleção Feminina de Vôlei na disputa das Olimpíadas de 1980.
Natural de Porto Ferreira, interior de São Paulo, a jogadora era companheira de Vera Mossa no Guarani. Na época com 20 anos, vestiu a camisa brasileira em Moscou, abrindo portas para o esporte se desenvolver e crescer no nosso país. “A maior lembrança das Olimpíadas de Moscou foi o mascote, o ursinho Misha, a alegria da abertura e a lágrima no final. A abertura dos Jogos Olímpicos foi encantadora, o desfile também e a emoção de representar nosso país, sendo a primeira seleção do voleibol feminino (do Brasil) em uma Olimpíada, foi muito emocionante”, enaltece Rita.
“Nossos jogos foram com sets disputadíssimos, ficamos em 7ª lugar, mas poderíamos estar entre as quatro melhores porque chegamos a perder de 3 sets a 2. Tenho orgulho da nossa geração, assim como as que nos antecederam e as que vieram depois de nós. Todas fizeram e fazem o voleibol ser reconhecido como o esporte brasileiro com maior torcida depois do futebol”, comemora a ex-jogadora.
Nas quadras vestindo a camisa verde e amarela, Rita participou da geração que foi medalhista de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Porto Rico, em 1979, e também foi campeã mundial universitária no Canadá.
Ela agradece a oportunidade oferecida pelo Guarani para jogar voleibol e enaltece o grupo de atletas que ajudou no crescimento da modalidade no Brasil.
“O Guarani de Campinas foi um time campeão, com grandes atletas e, na minha opinião, com o melhor técnico de formação de atletas, Antônio de Pádua Bafero. O Guarani revelou muitas atletas no voleibol que defenderam a seleção paulista e brasileira. Além de mim e a Vera Mossa, tivemos Angélica Beraldo, Adriana Lima, Mariângela, Adriane, Filomena, Susy, Cida, entre outras. O Guarani tinha uma base forte. Eu mesma fui campeã paulista infantil, juvenil e adulta no mesmo ano. Fui atleta revelação e melhor no ano. São muitas recordações. Sou grata a cidade de Campinas, ao Guarani, às minhas companheiras de quadra e ao meu mestre Pádua. Foram grandes emoções e posso dizer que sou uma atleta olímpica”, destaca a ex-jogadora.
Em 1984, Rita não foi convocada para os Jogos Olímpicos, porém Vera Mossa mais uma vez representou a Seleção Brasileira Feminina de Vôlei, agora em Los Angeles, nos Estados Unidos. Mais experiente, ela já era titular e esteve em quadra na histórica partida diante da equipe da casa, quando o Brasil foi derrotado por 3 sets a 2 e por pouco não disputou uma medalha.
“Nessa Olimpíada, a nossa preparação já foi maior e a gente não precisou disputar Pré-Olímpico, porque os países do bloco comunista já tinham anunciado o boicote muito tempo antes. Eu tinha me firmado como titular da seleção e a gente já foi com um outro objetivo. Fizemos uma preparação muito maior, com período mais longo de treinamento e também fizemos vários amistosos. Foi uma preparação bem forte para aquela época”, pontua Vera.
“Chegamos lá e surpreendemos bastante pois tentamos brigar por medalha. A maior lembrança de Los Angeles infelizmente foi aquela derrota para a equipe do Estados Unidos naquele jogo histórico. Foi a derrota mais doída da minha vida porque a gente sabia que estava bem próximo de ficar entre os quatro primeiros e ir para uma semifinal. Na estreia, apesar de perder por 3 sets a 0 para a China, a gente fez um jogo muito bom e surpreendente. Contra os Estados Unidos nós perdemos de virada. Foi muito triste porque a derrota foi no detalhe”, lamenta.
“No geral, apesar das derrotas, foi muito bom porque eu acho que as pessoas começaram a acreditar mais na gente, perceberam que se tivesse mais apoio, aquelas meninas tinham potencial e talento para chegar ainda mais longe. Com pouco, conseguimos ir longe. A partir destes jogos, o vôlei feminino passou a ter mais credibilidade”, garante a ex-ponteira, que formou parceria histórica na seleção com atletas talentosas da época como Jacqueline e Isabel, garantindo também o sétimo lugar nesta Olimpíada.
Após a campanha histórica e a quase classificação para a semifinal em Los Angeles, Vera Mossa foi convocada novamente para defender a Seleção Brasileira de Vôlei em mais uma edição dos Jogos Olímpicos, agora em 1988, em Seul, na Coreia do Sul. A expectativa era por resultados ainda melhores, o time brasileiro chegou na 6ª posição, porém o sentimento da ex-jogadora foi de frustração.
“Em 1988, a gente já tinha uma outra estrutura, já tinha mais apoio, o profissionalismo já estava começando a render mais resultados, a gente fez uma boa preparação, mas fomos com uma equipe mais mesclada de jogadoras um pouco mais experientes e atletas muito novas. Metade da equipe veio do Campeonato Mundial Juvenil que elas tinham sido campeãs. Eu era uma das mais experientes com 24 anos, tinha algumas jogadoras mais velhas que eu, mesmo assim era uma das equipes mais jovens”, explica.
“Isso eu acho que acabou também contribuindo para a equipe não ir tão longe. Garantimos um sexto lugar, fizemos alguns bons jogos, mas não foi uma participação que tenha marcado tanto. Foi uma evolução, a gente via uma evolução, mas para mim 1988 foi a mais frustrante. A gente esperava mais, mas a equipe era muito jovem e também houve muitas trocas de jogadoras durante o ciclo olímpico. Cada ano era uma seleção diferente. Eu mesmo fiquei dois anos fora”, lamenta Vera Mossa.
Apesar de não conquistar medalhas no vôlei feminino nas três primeiras disputas olímpicas, o Brasil evoluiu em Barcelona, em 1992, garantindo o quarto lugar, e conquistou a medalha de bronze nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, e Sidney, em 2000, com uma geração talentosa que tinha craques como Ana Moser e Ana Paula, além de Virna Dias, nascida em Natal, no Rio Grande do Norte, e atualmente moradora de Campinas.
Após sentir o gosto da medalha de bronze, a seleção brasileira feminina de vôlei ficou em quarto lugar nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, e conquistou as duas primeiras medalhas de ouro de forma consecutiva nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, e Londres, em 2012. Na última edição dos jogos, no Rio de Janeiro, em 2016, o time comandado por José Roberto Guimarães foi eliminado pela China, nas quartas de final, e terminou na 5ª posição.
Campinas berço também do voleibol masculino
Medalhista de prata nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, o voleibol masculino do Brasil ficou na quarta posição quatro anos depois em Seul, na Coreia do Sul, e conquistou a primeira medalha de ouro em Barcelona, em 1992, com o craque Maurício Lima em quadra na seleção que ficou marcada pelo talento de Marcelo Negrão, Giovane Gávio, Paulão e Tande.
Nascido em Campinas, Maurício atualmente é embaixador do Vôlei Renata e foi um dos grandes craques dessa seleção que fez história com uma campanha invicta, coroada com a vitória por 3 a 0, diante da Holanda, na final. Anteriormente, o levantador já havia participado dos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. Ele também esteve em quadra em Atlanta, em 1996, quando o Brasil ficou em 5º, jogou nos Jogos Olímpicos de Sidney, em 2000, terminando na 6ª posição, e conquistou mais uma vez a medalha de ouro em Atenas, em 2004, na geração que tinha craques como Ricardinho, Giba e Nalbert.
Assim como Maurício, o central André Heller também esteve na conquista dourada de 17 anos atrás e garantiu a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. O ex-jogador, nascido em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, encerrou a carreira em Campinas, mora na cidade e também trabalha no Vôlei Renata, no cargo de coordenador técnico e embaixador do clube.