Doadores anônimos, poder público e iniciativa privada criaram ao longo de 2021 uma grande rede de solidariedade para ajudar famílias carentes. Essa corrente do bem deu amparo às pessoas em maior vulnerabilidade social durante a pandemia, já que o impacto econômico da crise sanitária deixou milhares de trabalhadores formais e informais sem renda. Uma das iniciativas que resultou em ação efetiva foi a campanha Mobiliza Campinas, liderada pela Fundação Feac. A Federação das Entidades Assistenciais decidiu ampliar o seu leque de ações sociais criando, desde 2020, essa rede de amparo contra a insegurança alimentar e nutricional.
O Mobiliza Campinas termina esse ano beneficiando 6,8 mil famílias. Elas receberam um cartão alimentação de R$ 120, carregado mensalmente por quatro meses. O relatório desta segunda edição mostra que 69% das famílias beneficiadas em 2021 não haviam recebido o cartão no ano anterior. A campanha gerou R$ 3,2 milhões aproximadamente, incluindo um aporte de R$ 2 milhões feito pela Fundação Feac. De acordo com dados disponibilizados no site da Feac, a arrecadação chegou a R$ 6,3 milhões no ano passado.
A rede que a Feac lidera é formada por 70 organizações da sociedade civil (OSC), distribuídas em 102 unidades nas cinco macrorregiões de Campinas. Elas são responsáveis por cadastrar as famílias, distribuir os cartões e fazer o monitoramento.
“A ação das OSC é fundamental para chegarmos às famílias de extrema vulnerabilidade. Como as organizações são referência nos territórios em que atuam, as demandas sociais também são, na maioria das vezes, acolhidas por elas”, destaca Sílnia Prado, líder do Programa Fortalecimento de Vínculos, da Feac.
Além dos cartões, a edição de 2021 contou com a arrecadação de diversos produtos, doados por 11 empresas: 2,5 toneladas de alimentos, 1,4 tonelada de itens de higiene, 14 mil litros de água e 1 tonelada de leite. A distribuição também foi feita por todas as OSC da rede.
Os beneficiários
O relatório divulgado pela Feac mostra que 43,3% dos beneficiários estavam desempregados, considerando a perda de empregos formais, e 37,9% estavam sem nenhuma fonte de renda.
“Neste ano, o desafio foi maior [em relação ao ano passado], pois enfrentamos novamente um cenário de incertezas. Muitas pessoas permaneciam sem emprego, seja ele formal ou informal”, reforça Sílnia.
A presença feminina predominou: 93% dos cartões foram emitidos em nome de mulheres, chefes de família. O número se manteve o mesmo da primeira edição. Além disso, 47% das famílias são monoparentais e 60% têm crianças e adolescentes até 17 anos.
Poder de escolha
Uma vantagem do cartão é o poder de escolha que proporciona aos beneficiários, que podem decidir qual alimento comprar. Essa iniciativa pode contribuir para o combate da insegurança nutricional.
Segundo o estudo Alimentação na primeira infância: conhecimentos, atitudes e práticas de beneficiários do Programa Bolsa Família, publicado pelo Unicef em dezembro de 2021, cerca de 80% das famílias entrevistadas relataram o consumo de alimentos ultraprocessados pelas crianças de até 6 anos. O acesso dificultado à alimentação saudável também foi apontado por mais de 80% dos entrevistados.
“Para muitas famílias, a autonomia proporcionada pelo cartão foi determinante para a aquisição de itens que dão maior qualidade nutricional, como leite, frutas, verduras, ovos e misturas”, destaca Sílnia.
O Comitê Executivo Mobiliza Campinas é formado por seis organizações sem fins lucrativos de Campinas: Associação de Educação do Homem de Amanhã – Guardinha, Centro Comunitário do Jardim Santa Lúcia, Centro Educacional de Assistência Social Menino Jesus de Praga, Fundação Feac, Grupo Primavera e Projeto Gente Nova.
Série Fome e Solidariedade
Reportagens do Hora Campinas mostraram ao longo do ano a crise aguda da fome em Campinas, com pessoas dividindo retalhos de carnes e ossos doados por açougues. A série também abordou a rede de solidariedade criada para atenuar os efeitos dessa verdadeira tragédia humanitária. Veja abaixo as reportagens.
Thayná Cândido da Silva, 25 anos, catadora de recicláveis, e seu filho Enzo, moradores do Jardim Rosália 4, em Campinas, foram os personagens-símbolos da série do Hora Campinas. O drama retratado gerou comoção e solidariedade. Sua família ganhou cestas básicas e até uma casa nova. O barraco foi demolido e uma construção está sendo erguida no mesmo terreno onde havia as estruturas de madeira, papelão e telhas improvisadas.